Wednesday, February 13, 2008

MÚSICA E INTOLERANCIA



Estava eu passando aqui pelo meu blog, conferindo os posts , quando de repente, deparei com a garrafal acusação: INTOLERANTE. Não sou muito do tipo que responde a ataques, sobretudo por achar que as pessoas tem o direito de discordar, isso é legitimo e ótimo que seja assim, que não se concorde sempre. É assim que pessoas inteligentes e civilizadas convivem, discordando de idéias, mas defendendo o direito do outra de tê-las. Porém, ao encontrar a mesma acusação em dois outros posts, achei que isso merecia uma reflexão. É uma máxima minha: uma vez é opinião, duas é coincidência, três é estatística. Passei a me questionar: Você não está sendo mesmo intolerante Junkie Careta? será que o seu "amigo desconhecido" não está certo? passei a me auto-observar e decidi levar a coisa um pouco mais a sério. Eu passaria alguns dias, com metodologia e tudo, registrando todo e qualquer tipo de música que chegasse aos meus ouvidos. No rádio, na fila, na rua, onde eu estivesse e iria analisar com o máximo de desprendimento possível, sem intelectualismos burgueses, e, sobretudo, com o máximo de respeito e tolerância. Ouviria e anotaria coisas que de alguma forma me chamassem a atenção, tanto no sentido positivo como negativo, depois, registraria, e meus amigos que gentilmente se dão ao trabalho de passar por aqui, vão dizer o que pensam da minha "pesquisa" e confirmarem se tenho sido intolerante ou não.Televisão não, que essa já está morta e enterrada e tem velório todo domingo em sua programação.

Tendo organizado a metodologia, passei a ter dentro do carro, um bloco pra anotar tudo que me chegasse. (Junkie careta é professor e não teve dinheiro ainda pra comprar um notebook ou um pager, amigos ou inimigos sensibilizados com a situação podem enviar para suas doações para...)
A metodologia logo demonstrou-se questionável, burra mesmo(não dava pra dirigir, que é o momento que mais ouço música, e anotar, Junkie careta burro!). Passei a usar um gravador pequeno, onde eu normalmente registro alguns células de composições minhas. Eu abandonaria os meus Cds oi só recorreria a eles em casos extremos e me entregaria ao que encontrasse pela frente. Decidi começar pelo rádio. Acabou que , às vezes, ficou parecendo uma prosa de um
Caio Fernando Abreu sem o talento majestoso do original. Vamos a ela:

― Entra a primeira música do dial, ouço um eletrônico, meio safado, onde um cara com complexo de Ícaro misturado com Dorothy Gale, ficava dizendo: "my dream is to fly, over the rainbow, so high". .. 1, 2, 3 vezes...Não seja chato e metido junkiecareta... (porra , ele vai falar isso de novo?) 4 ,5, 6... (ok, a melodia é pegajosa, confessa você gostou!) vamos mudar de ares.

―Tá lá um locutor fazendo aquele clichê "raparigueiro, pinguço-machista"(Olha a tolerância Junkie careta...) e tome forró , tome, tome, tome! E tome discurso machista e lorota de "Sou gostosão, comilão, bebum e elas adoram!” (será que esse cara consegue comer alguém com esse discurso?) ok, pelo menos foi legal ele botar o hino do flamengo e sacanear com os vascaínos, admita! Vamos para outra.

―Estão lá vários locutores falando ao mesmo tempo(por que eles insistem em falar rindo? pra dar esse clima de "pra cima"?que coisa mais falsa). Ih...já vi isso em outra rádio de S. Paulo... Estão dizendo pra ligar pra lá e pedir uma música. Vou ligar pedindo "panic", dos Smiths, com aquele memorável refrão: “hang the dj, hang the dj”. Será que eles vão tocar?E tá lá o cara claramente lendo um texto... Putz! Errou a palavra! E essa pronúncia do nome da música?Que coisa macarrônica!(deixa de ser chato rapaz, tu acha que todo mundo tem a obrigação de falar Inglês ? INTOLERANTE!Vamos pra outra.

― Eu por acaso não conheço essa voz do meu celular? Fala bem essa moça! Sem clichê na voz. Ih... Vão dizer que tô falando bem porque é minha amiga.Vamos mudar então.

―Lá vem o rapaz que quer voar "over the rainbow, so high!"(de novo!) muda.

―Já chegando no trabalho, ouço no meio de uns teclados horrorosos, misturados a uma percussão sofrível, e vou identificando... Como assim? Meu Deus! já não bastasse ir em todo canto e encontrar o mundo inteiro dizendo: Ela-ela-ela-ê-ê-ê, agora vou ter que aturar uma perversão(sim, porque não posso chamar isso de versão...) de Rihana em versão forró, em português? É o fim... Fico pensando...isso não é subestimar a inteligência do público? como é que funcionam essas coisas? Fico imaginando a cena: - E ai gente? o que é que tá tocando muito nas rádios? Vamos fazer uma versão pra pegar uma carona? Se eles cantam e dançam em inglês, vão fazer o mesmo em português. Não tem como errar! Por alguns instantes comecei a pensar que intolerância, NESSE CASO, não me parece mais uma coisa assim tão ruim... Mudando de dial de novo.

―Uma Brutal caricaturização de um gay estereotipado, cantando algo parecido com "Daniela" me esgota a paciência. Graças a Deus cheguei no trabalho. Putz, isso tá começando a ficar mais dolorido que monografia!

Noite. Que dia... Saindo do trabalho e retomando a “pesquisa” :

―"Satisfaction" Euro-dance?É... Cada um faz a satisfaction que sabe e tem a que merece. Como eles adoram esse efeito no baixo... satisfaction por satisfaction, ainda prefiro a do Devo, que dependendo do mood, pode soar bem melhor que a original.

―Essa não é aquela banda de reggae que mudou de nome?Natiroots- refrão ganchudo. Bacana.Um sopro bem colocado é sempre certeiro.

―Semente, semente... Essa sementezinha deu frutos viu, porque toca p c*! Ah, acabo de descobrir que o agricultor da "semente" é o mesmo cara do sublime verso: "Quando deus te desenioô (em baianês quer dizer, desenhou, mas o cara é gaúcho...), ele tava namorando, na beira do mar do amor". Papai do céu na hora de fazer você, ele dever ter caprichado pra valer". Morango do nordeste perdeu feio!

―Opa! Bahiana na área. Boa letrista esse menina a Pitty, pena que a Mtv enlatou ela pra ser o Charlie Brown de saias, as meninas precisavam de um modelo pra idolatrar...Mas ela não tem culpa. Sabe fazer uns refrões ganchudos. Se desse uma aliviada naquele distortion prevísivel, apareceria mais as boas melodias. Essa "pulsos" que tá tocando aqui, tem uma letra no mínimo ousada. Só não gosto do "guarda os pulsos pro final, saída de emergência...". Sem querer comparar à grandiosidade dessas obras, mas, Os Sofrimentos do Jovem Werther de Goeth e Closer do Joy Division , já foram acusados de indutores de suicídio. Nunca se sabe o que o desespero pode causar, sobretudo em mentes adolescentes e inexperientes, em constantes crises de identidade e bombardeados por hormônios, pressionados por esse mundo às vezes cruel e frio, que super-valoriza o vencedor, o popular, o rico, o bonito, e ridiculariza o loser. Eu e você que já fomos adolescentes sabemos como é fácil se sentir o patinho feio nessa fase.

―O que é isso meus Deus? eles insistem... Acabo de reconhecer a melodia do Air Supply (banda que fazia sons mela-cueca nos anos 80, bobinhas, bonitinhas. Lembra de "making love out of nothing at all"? pede socorro de novo pro teu irmão mais velho ou vai no novo dicionário musical dessa geração, o youtube. Se não conseguir liga pra Milla Camões que ela te explica). Adivinha? uma versão em...em...forró muderno! socorro São Jackson do Pandeiro!!vou mudar.

―Mais uma banda de pseudo-forró, ou o que quer que isso seja.Será que esses caras não tem vergonha? Como é que um compositor se presta a fazer uma bosta dessa?INTOLERANTE Junkie Careta! Você está confirmando a teoria do seu amigo anônimo! Tá vendo como ele tá certo?Depois dos dois primeiros sublimes versos, rimando Rafael com mel, decido desligar o rádio e abrir o vidro pra ouvir o som da cidade.

Passando pela litorânea para desanuviar a cabeça, logo desisto da idéia ao passar por uma série de bares. Whathehellisthat! Se aquilo não era o próprio Inferno de Dante eu não sei o que era! Centenas de pessoas com os carros ligados com a porta do bagageiro aberta, com cada um disputando com o outro quem tocava a pior música e o mais alto possível. Incrível como essas coisas podem acontecer! Há pessoas que realmente acham que o outro tem a obrigação de ouvir o que eles consideram bom! E tome, tome, tome (argh!) e dá-lhe : "olha a barriguinha" pra cá, "quem é o gostosão daqui" pra lá. Uma infeliz fica dizendo "minha periquita!" a cada segundo com uma voz estridente. Que porra é essa? Eu adoro rock, mas nunca abri o porta-mala do carro, na praia obrigando as pessoas para ouvir "anarchy in the U.K" dos Sex Pistols , ou o "Songs for the death" dos Queens of the Stone Age !Nem nunca obriguei ninguém a ouvir Bach ou Beethoven só porque me faz bem! Aliás, já repararam? Alguém aí se lembra de um dia ter parado num bar e, subitamente alguém chega e abra a porta do bagageiro e de lá ouve Tom Jobim bombando? “retrato em branco e preto”? Por que será? Tranco as janelas e volto correndo pros meus cds. Pet sounds dos Byrds me devolve a paz e logo o velho maestro encerra a tortura anterior me equilibrando com "Luiza".

No caminho de casa, já com a alma em paz, decido comprar um remédio, aconselhado pela garganta que começa a doer. Passando perto de um posto de gasolina eis que me invade o carro, uma confusão de sons parecidos com os que encontrei na litorânea. Baixei o vidro já curioso pra saber quem seria o gênio do marketing a fazer uma originalíssima festa num posto de gasolina e constatei abismado que o inferno de Dante tinha filial: Dezenas de carros parados, centenas de garotos e garotas bebendo e fumando(fumando em posto de gasolina?) vários encostados na bomba de gasolina, falando no celular (celular em posto de gasolina?encostado na bomba? o nome do negócio não é BOMBA de gasolina?) dessa vez com uma novidade sonora: guitarras com distortion no talo, garotos com a tradicional fardinha preta "olhem-como-sou-sou-rockeiro"( hair show) olhando pros forrózeiros com cara de poucos amigos, dizendo: " bando de playboy babaca" e os forrózeiros olhando com cara de nojo pra eles de volta, com cara de: "bando de roqueiro doidão". É interessante estar do lado de fora. Foi muito engraçado reconhecer a voz de Bruce Dickinson cantando "number of the beast" de um lado se misturando no ar com uma outra de um cidadão dizendo"beber, raparigar, fazer zueira, pra voltar não tem hora". A minha esperança na tolerância saiu abalada dali.

Sábado.

Perto de casa, depois de vários carros passarem por mim, tive a sensação de estar havendo algum congresso nacional de forró na cidade. Antigamente se um carro passava por nós com o som explodindo, era quase certo encontrar um garotão ouvindo "balanço" (adoro esse rótulo...) ou o poperô da época. É curioso verificar que, os playboys continuam, mais agora foram acrescidos por novos concorrentes: os tiozinhos com suas S10 e Rangers exibindo orgulhosamente o seu som, e novos universitários (já notaram que são sempre carros grandes? do tamanho de sua falta de educação e tímpanos?) e a trilha sonora da exibição agora é o tal do "forró muderno". Não sou capaz de diferenciar uma bunda, oops, banda, de outra, não tenho interesse nenhum em tal coisa, mas admito que o mercado de trabalho que eles abriram para novas profissões é extremamente importante para o reconhecimento dessas novas ocupações, sobretudo, a mais notória de todas: o apertador de testículos. Não conhece o profissional em questão?É aquele cara que fica nos estúdios exercendo o seu ofício para que o cantor consiga chegar naquelas "músicas" 2 oitavas acima do tom natural do cantor, e pra garantir que saia com aquele tom sofriiiido, muito comum nesse meio. Foram exportados do sertanejo onde já transitavam com um certo sucesso.


Começo de semana. Preguiça...Entrando no carro pra ir pro trabalho


― Nossa... Nação Zumbi! Que coisa essa banda... no limite.Pop mundial pronto pra ser consumido, original. Taí uma banda que soube dialogar com sua tradições sem ranço e fazer um som moderno, sem a postura purista e burra da maioria. Comparo(guardadas as devidas proporções, naturalmente) com o que aconteceu com o Joy Division com a morte do Ian Curtis. Conseguir sobreviver sem a presença do vocalista mito e continuar evoluindo foi uma prova de sua qualidade. Essa rádio me dá certeza que seria preciso muito pouco pra se fazer um programa que não subestimasse a inteligência do público, se houvesse interesse. Se cuida esquemão! Se liga jabacolândia, que a lastfm, o pandora e afins já deram o toque... As grandes gravadoras já agonizam com o rabo cheio de cds encalhados. Que bom poder viver nessa época e presenciar esse paradigma ser quebrado. Quem sabe um dia, deixarão de perguntar para o artista:
- E o cd? Quando sai?

Jorge Ben... os alquimistas estão chegando...que coisa...que violão espacial é esse?Alguém tire a guitarra da mão desse homem urgente e lhe devolvam um violão!Mais esperança... Saudade do "A Tábua de Esmeralda"” e “"Samba Esquema Novo". Perfeitos. Volta e meia, acabo ouvindo.

―Trânsito lento...como pode uma cidade desse tamanho ter tantos carros? Foda! Será que nas auto- escolas ninguém mais ensina que tem que dar sinal quando se vai passar?que porra!ligo o rádio...mudo o dial...blá,blá,blá. Mudo de novo. Um locutor fazendo aquele clichê “ovo quente na boca”. Ôpa! a versão da Rihana de novo! Quero ouvir o refrão... Amu você-ê--ê-ê-ê, mas você vai me perder-ê-ê-ê. Não aguento e dou uma gargalhada no carro tão alta que o carro do lado me olha com cara de: O que é que esse maluco tem? amuu-você-ê-ê-ê foi sensacional essa foi ó-com-cú, oops, sorry, hours concours. É séria candidata a pérola do ano. Nesse semáforo, vivencio uma cena sui generis. Um carro do meu lado(s10...) para e fica tocando um cara que fica chamando uma “Solanja” a cada minuto. Do meu outro lado, um outro(um celta!preto!) toca bem alto alguma coisa parecido com “chupa que é de uva” e um bar , na avenida, toca algo como “eu vou te dar de mamar-mámá-mámá, também conhecida por “melô da vaca”. Primeiro, a ex-Atenas Brasileira, virou Jamaica Brasileira e agora virou o clone da capital cearense, a Fortaleza brasileira. Fico absolutamente convencido, como diria nosso digníssimo presidente, que São Luís virou a Meca do "forró muderno”. Agora até os bares tocam Dvs dessas bandas com seus figurinos de Xuxa e músicas de eternos abandonos, coreografias cafonas, apologias chauvinistas. Quero fugir.

―Como quem entra na chuva é pra se molhar, ligo o rádio de novo. Vanessa da Mata e Ben Harper tocando, me devolvem a sanidade mental – A lição que essa moça deixa é muito proveitosa. Vanessa faz parte dessa geração que dialoga com o passado, e agrega essa referência pro presente, acrescentando a sua marca, faz um dos melhores e mais honestos reggaes que eu ouvi nos últimos tempos, desde o brilhante “a raça humana” de Gil. Melhor que uma centena de louva-Jah espalhado pelo Brasil, que citam seu nome sem saber absolutamente nada dele, do Rastafári, do reggae, engolidos pela mesma babilônia consumista do ideário reggae que Marley tanto condenava. Vanessa só perde pra ela mesma em reggae, no lindíssimo “vermelho” com uma cozinha de fazer inveja aos irmão Barrett. Vanessa Faz parte de uma geração nova que olha pra frente, não tem medo de experimentar, botar no mesmo microondas Massive Attack e João Gilberto, ou Portishead e Gilberto Gil como faz a excelente Cibelle. Ok, a Céu também é muito boa.

― De novo o Icaro? um rifle por favor! se esse rapaz disser que quer voar de novo, eu pessoalmente empurro ele do alto do Empire State.

Intervalo do trabalho.

― Pastelaria(tempão que não fazia isso,tô cortando as frituras..)Para tudo! Outra versão em forró da Rihanna? Como será esse refrão? lá vem...“pode ficar com ela-ela-ela-ela”... ah meu Deus... inacreditável. Escolha a sua.

―Então é isso que é o tal do créu?Putz!até que é levezinho... É foda esse tipo de coisa... O cara tá aqui dizendo na entrevista desse programa, que é uma coisa simples, que quando uma criança dança não tem essa associação com sexo como fazem os adultos, que isso não influência nada(jura?) então tá... Se é pra sacanear, porque não pôe a Dayse Tigrona que não faz firula e vai direto ao ponto sem medo de ferir qual é o papel que se espera de uma dama? A M.I.A já pediu benção, sampleou e até tocou com ela(Ouça aqui em alta velocidade). O que falta? O Caetano gravar uma versão pra uma pá de gente dizer que é “arte”. Aliás, Por que não se toca Bonde do Rolê? E o Cansei de Ser Sexy (CSS pros gringos), a banda brasileira de maior sucesso no exterior? Não tem apelo popular? Não tem jabá pra tocar? Ou não tem cultura musical, pesquisa, de quem deveria informar, como alguém muito bem lembrou aqui em um comentário? Burrice mesmo? Preguiça mental de quem programa as mesmas músicas a 300 anos? A tribuna está aberta.

―O Dj dessa rádio que adoooooora hip hop disse isso? Não acredito! Mais uma coisa muito engraçada em nossas programações de rádio e tv: permite-se coisas como "bifê de buças" seja tocada diariamente no rádio, odes aos cafetões, mas não se toca Dayse Tigrona, que é muito mais sincera e escrachada. Prefere-se a pornografia dúbia do forró/hip hop, ou então, somente a americana, porque mentalidade de colonizado é assim: a pornografia deles é melhor e mais bonita que a nossa. Duvida? Separei alguns pedaços do grande esse hit do 50 cent (que alíás sabe produzir como ninguém...) tocado diariamente nas maiores rádios do país: O cara já começa dizendo “vou te levar pra loja de doces, vou te deixar lamber um pirulito...” depois dispara pérolas, do tipo: “I melt in your mouth girl, not in your hands (sacou o que ele faz na boca da garota e não nas mãos, né? Got the magic stick (varinha mágica, é?) I'm the love doctor(love doctor…tô sabendo…). Get on top then get to bouncing round like a low rider(suba, é? low rider, humm…). Climb on top, ride like you in the rodeo(suba como se você estivesse num rodeio, é?). Soon as I come through the door she get to pulling on my zipper, It's like it's a race who can get undressed quicker (torneio de quem abre o zipper mais rápido, é? taí, vou sugerir pras próximas olimpíadas...) depois ainda vem dizer que a Dayse é pornográfica!Só por causa daquele singelo verso: “corre pro banheiro e vai tocar uma p* , eu dou pra quem eu quiser que a p* da b* é minha”. È muita hipocrisia! Vai entender...
E “Doggystyle”, do safado e outrora excelente, mas que já demonstra sinais de cansaço, o
Snoop Doggy Dogg? sabe o que é isso? pois é, é aquela posição que você tá pensando mesmo... e a desbocadíssima Missy Elliott? e as sacanérrimas Salt-N-Pepa? E a sacanagem kitschie de Serge Gainsbourg, hoje elevado à categoria de “cult” ? e a sacanagem cool do Portishead?(tá, eu sei, eles são muuuuito mais que isso, também acho, mas vai dizer que aquele climão não instiga os seus mais primitivos instintos? confessa... Não é ataque puritanista não, gosto de todos aqui citados, mas só to condenando essa hipocrisia de discurso que diferencia o que é pornográfico aceitável e pornográfico inaceitável. Meu Deus! Terá sido criada o xenofobismo sacanal? Sacanagem por sacanagem, prefiro o taradão do Marvin Gaye que sabia fazer um clima,com aquelas cordas celestiais, aquele swing(opa! tô falando da música!) um cara que propõe “cura sexua”l (sexual healing) e depois convida a garota pra “let’s get it on” na cara dura, com aquela desculpa esfarrapada, é um tremendo de um sacana que entende do traçado, vamos combinar!Até hoje essas músicas são imbatíveis no quesito acasalamento, quem já namorou ao som dele sabe exatamente do que eu tô falando. Ainda prefiro também deus Prince. O cara era tão pornográfico que o foi o primeiro artista a ter na capa do CD "parental advisory" , que é o que se usa pra dizer que aquilo tem conteúdo explícito, perigoso para menores de 18 anos. “Get off” até hoje soa ousada. Neguinho vai ter que fazer mais do que arriar as calças e dizer yô! pra chegar aos pés do pequeno gênio de Minneapolis.

―Se não é a Britney! - "piece of me"- Yeah! Britney rocks now!Agora que ela não é mais apologista do himem, tá "dadeira", casa e descasa com a mesma velocidade, cagou para o próprio mito pop descartável que virou ao se apresentar orca no VMA, tá bagaceira, eu quero um pedaço dela! Só não quero aquela parte de domínio público que ela exibiu porque tava bem feia na foto, mas aceitamos negociação. A clássica “música de produtor”. Puta produção! Isso é coisa do Timbaland, ele saca da coisa.

―Dilúvio na ilha. Contei 3 árvores no meio da pista e 4 batidas entre o vinhais e o centro. Preso dentro do carro, trânsito lentíssimo, só me resta ouvir rádio. A voz grave de Cássia Eller cantando “partido alto”, só me aumenta a saudade daquela figuraça. Que falta que ela faz nesse marasmo de cantoras comportadinhas! Parecem um monte de Sandy velhas!A saudade dói mais ainda quando ouço aquela outra moça da voz grossa que conseguiu me fazer enjoar "the Blower's daughter" do Damien Rice, transformando-a em : em não sei paaaaraaaar de te olhaaaaaaaaar, eu não sei paraaaaaaaar de te olhaaaaaar...Reencarna logo Cássia! baixa em alguma cantora médium e vem dar uma aliviada nesse panorama semi-estéril!. E a Cássia ainda tinha o bom gosto de gostar de mulher!

―Isso não é aquele locutor que “arrepia os pêlinhos do carpete” ? Mas isso é uma lenda! Acho que é um clone... Mas vejo que a escola fundada por ele é bem devotada. O cara começa a tocar Roberto da fase dos motéis. Tái outro sacana... Amanhã de manhã, vou pedir o café pra nós dois... Esse já soube fazer pop como ninguém, é o pai da criança em terra brasilis. Aquela fase soul dele, quando voltou cabeludo, maconheiro e funkeiro, é perfeita. Não tem quase nada errado. Foi rei por muuuito tempo, até começar a chutar lata, aí fudeu... Que pérola! Depois de dizer que ouvimos a “gostosa” música do rei, nessa chuva “gostosa”, e que o motel X espera você pra fazer aquele amor “gostoso”, fecha com brilhantismo, dizendo que o rei ao cantar “polariza todas as atenções do universo para ele”. Isso é uma coisa Kantiana! Sobrevivi ao dilúvio. Cheguei no trabalho.

―Não! Não pode ser! Mas essa Rihanna virou uma instituição! meus ouvidos incrédulos demoram a aceitar, mas eu estou ouvindo uma versão emo de ... umbrella! Hoje a noite pra tirar uma grana pra pagar o EP, vou fazer uma versão hip-hop, vou chamar a Legenda pra fazermos uma versão reggae, Fernandim pra fazermos a versão Jazz, Guilherme Raposo para fazermos a versão trip-hop, Jeff Soares para fazermos a versão Drum’n bass! Algum amigo por aí pra ajudar a fazer a versão hard rock? uma delas vai dar certa! ou todas! Vamos ficar milionários!
Com essa acho que eu vou dar por encerrada a minha pesquisa.

Parei.

Decidi parar a pequisa ali, já tava fazendo isso a uma semana. Não quero mais ser pesquisador, dá muito trabalho. Mas foi divertido, rendeu boas risadas, alguma surpresa, indignação em ver como a máquina funciona naquilo que em minha compreensão é o emburrecimento do público, a subestimação das inteligências e que invariavelmente me dão sempre vontade de citar o velho Marx. Na forma truculenta com que produtores e a moribunda industria do disco e da mídia atuam. Depois vem chorar dizendo que a rádio cada dia mais perde pra internet. Será que eles estão surpresos?Quem em sã consciência, vai largar de ouvir uma programação feita por si mesmo, ou escolher entre uma com uma variedade de opções que o mundo virtual oferece, moldados ao gosto de quem escolhe, informativos feitos por especialistas, amantes da música e curiosos, variedade, informação, entretenimento, cultura, para ouvir as mesmas músicas, as mesmas inflexões de voz, os clichês de repertório, a falta de pesquisa de sempre?. Aliás, curiosidade e informação são palavras que agonizam nesse meio decadente.Taí alguns poucos exemplos de opções que ridicularizam o modelo falido:

http://lucioribeiro.blig.ig.com.br/
http://blogs.guardian.co.uk/arts/
http://www.allmusic.com/
http://www.bbc.co.uk/radio1/rockindie/index.shtml

Isso sem contar os manjadíssimos myspace, youtube, palcomp3,trama virtual, etc... só pra citar os mais conhecidos.

Confesso que às vezes me assustei em ver como andam as coisas. De qualquer forma, as conclusões que cheguei foram:

Não acho que não gostar do que o outro gosta e expor isso, onde quer que seja, sobretudo numa página que é minha, possa ser caracterizado como intolerância. Se for, me darei ao direito de ser intolerante, embora não ache, já que eu não saio por aí fazendo apartheid cultural, agredindo, humilhando ninguém, até mesmo por que seria anacrônico, patético, prepotente e ridículo.
Viva a democracia que me permite, fechar o vidro do carro, a janela da casa e escolher o cd que eu quiser. Eu , por exemplo já peguei, pela milionésima vez, o meu do Morrissey "you are the quarry" e volto a ficar feliz dirigindo. Não sou melhor nem pior do que ninguém só porque tô ouvindo o velho Mozz. Tô mais feliz ainda porque o próximo da fila é o Bowie, depois os Undertones, o Tim Maia Racional, O LCD Soundsystem, O Libertines, a Dinah Washington, O "Cê tá pensando que eu sou Loki" do Arnaldo Baptista, O novão do Chemical Brothers, O b-sides da Bjork. Esse é o meu mundo, lugar onde eu me recomponho e me despedaço, me construo e me destruo, com as linguagens, expressões que me identifico e dialogo com o mundo. Também me dou o direito de não gostar do que não me fala pra inteligência e pra alma e expressar isso.Por personalidade e opção de estilo na maioria das vezes com ironia, mas jamais vou empurrar goela, ou ouvido abaixo, só porque é o meu melhor, como também não vou, em nome da tolerância, ser hipócrita e dizer que acho algo bom, sem de fato achar.

Viva a educação que me faz pensar: - "Pô, não vou incomodar o meu vizinho com essa música tão alta".

Viva o que você gosta e te faz feliz, mesmo que me cause repulsa, bem como o contrário. Eu acho o que você gosta deprimente, mas, te respeito. Você acha o que eu gosto estranho e sem sentido, mas a gente divide a mesma fila no posto de gasolina sem eu te violar com o meu suposto bom gosto e você não viola o meu com o seu.

Viva a diplomacia e a civilidade que nos permite conviver no mesmo espaço sem nos comportar como selvagens ou olhar com desdém para as escolhas que as pessoas fazem pra si. Pelo menos deveria. Viva a diferença.

Falei.

P.S: e aí na sua cidade, aldeia, roça, ilha, metrópole, país? É diferente? Qual é a candidata a peróla do ano até aqui pra você?