Thursday, July 24, 2008

MÚSICA É HISTÓRIA



Meados da década de 90, uma mulher chega em casa cansada de um show, o marido ficou em casa. É um casal moderno(medo...).De manhã, o marido, surpreso, repara que há uma marca estranha na mulher.Chega mais perto e confirma: sim, aquilo era uma MARCA DE DENTE.E não era uma marca de dente em qualquer lugar, era uma marca de dente na BUNDA. Eu disse BUNDA mesmo!

E como é que se explica uma coisa dessas?

- Jura, não vi..

- Quem botou esse dente aí?

- Amor é o seguinte, caí sem querer na boca de um amigo...

Conclusão: Traição. Aí meu amigo, não há modernidade que aguente. Em vidas comuns como a minha e a sua, isso já seria motivo pra escândalo e separação, agora imagina se isso acontece na vida de dois ícones do Britpop!Pois é meus queridos leitores, o casal em questão é nada menos que Damon Albarn do Blur(uma das melhores coisas que a música britânica pariu na década de 90) e Justine Frischman, vocalista do Elastica (boa banda pra levantar uma festinha e sensação do da época)! Tá pensando que a coisa parou por aí? E se eu disser que a dentada em questão vem simplesmente da boca de Brett Anderson, o melhor letrista da musica inglesa desde Morrissey, até Jarvis Cocker do ótimo Pulp e Brian Molko aparecerem pra concorrer. Brett era vocalista do Suede(uma das minhas bandas prediletas e certamente uma das melhores Inglesas).

Recaída. Sabe aquele negócio que acontece quando uma situação termina mal-resolvida? Explica-se: Justine tinha sido uma das guitarristas da formação inicial do Suede e até deu o nome da banda (o título vem de uma música de...Morrissey , claro! "Suedehead", quer dizer "ambíguo", titulo perfeito pras letras ambíguas de Mr. Brett, que, by the way, era muuuuito ambíguo e dormia com uma foto de Bowie debaixo do travesseiro. Ah, eu ia esquecendo, ela também foi namorada do Brett na época... "Animal lover" foi feita logo que Justine o trocou por Damon e fala sobre o mesmo na letra. Aí, sabe como é aquela história: situação mal-resolvida, a sexy-princesa-bagaceira porra-louca do Britpop não resistiu aos apelos sexuais do bonitão andrógino e não deu outra. Aliás, deu. Ela deu. Desnecessário dizer que os tablóides britânicos deitaram e rolaram com a história explorando o acontecido à exaustão. O histórico ódio do Oasis pelo banda (e vice-versa) ganhou uma contribuição, um prato cheio para os irmão Gallagher sacanearem o bom moço Damon. Eles foram tão cruéis que chegaram a dar uma entrevista com uma camisa escrita "I bit her too”(eu também mordi). E Justine? bom, ela vendeu mais discos ainda. Quem não conhecia, acabou ficando curioso em saber quem era a mulher que tinha seduzido dois dos maiores ícones do britpop, objeto de desejo de 9 entre 10 Inglesas.

A pergunta é: e o Damon? Aí é que entra o título desse post...

Qualquer mortal comum nesse caso, tem uma depressão, toma vários porres, bota um Portishead no Cd, no MP4 ou no Ipod e vai drenar a dor, ou ouve Lupiscinio Rodrigues até secar o olho, Ouve Dolores Duran até ficar com pena de si mesmo, ou vai pra algum show do Reginaldo Rossi e canta "garçom" junto com ele até cair no chão. Mas o que fez o talentoso Damon? o que sabia fazer de melhor: música. Transformou sua dor em arte para os mais sofisticados. Não demorou muito e as rádios já ouviam o single da lindíssima canção
"no distances left to run", retrato perfeito do que significa ser abandonado:

"It's over/you don't need to tell me//I hope you're with someone who makes you feel safe in your sleeping tonight/I won't kill myself, trying to stay in your life/I got no distance left to run/When you see me/Please turn your back and walk away/ I don't want to see you Cos I know the dreams that you keep is wearing me"...



Mesmo assim o moço ainda no tinha exorcizado o fantasma, e fez um CD inteiro girando em torno do tema, o experimental, belo e triste "13".É importante lembrar que tempos depois, Damon afirmou que o motivo da separação entre os dois teria sido o abuso de drogas por parte de Justine e também o fato dela não querer ter filhos. Já as más línguas dizem que os reais motivos foram as puladas de cerca de Justine com Brett Anderson e as famosas marcas de mordida.

Damon, tá de bem com a vida até hoje, encabeçando dois projetos vencedores, o divertido Gorillazz e o ótimo The Good the Bad and the Queen. Brett, depois tentou voltar com o semideus da guitarra e guitarrista original da banda,Bernard Buttler (chamado na época de o novo Johnny Marr, por causa de seu inigualável jeito de tocar, inspiradíssimo no Glam rock(leia-se Bowie e Marc Bolan). Eles formaram a banda The Tears (vale a pena ouvir pelo gostinho de Suede) que ainda fez dois Cds e acabou. Justine anda meio sumida, depois das várias acusações de plágio, a talentosa e sexy musa ainda ostenta no currículo a vaidade de ser objeto de inspiração de dois dos mais importantes álbuns britânicos da década: o já citado "13" do Blur e o homônimo do Suede.

Continuando no mesmo tema, vamos dar um salto de 30 anos pra trás:

A nossa personagem chama Angela, ela tem um sobrenome que é famoso até hoje. Nos anos 70, ela era casada com um já semideus que iria atingir a divindade com o passar dos anos. O sobrenome era Bowie. Angela, ao chegar em casa de surpresa, encontra Bowie na cama, pelado com uma outra pessoa. Até aí, nada de sensacional, uma vez que no mundo do rock, especialmente nessa época, o conceito de fidelidade era bem relativo, mas na cama estava um bocudo de sobrenome tão famoso quanto Bowie: Jagger, o Mick. Angela, tomada de fúria, foi para as câmeras e revelou o ocorrido. Claro que os tablóides fizeram a festa(business is business...), Bowie e Jagger venderam mais discos ainda e fizeram mais shows(escândalos vendem amigos...). Mick, numa mea-culpa, faz e lança a bela balada "Angie", apelido carinhoso que bowie chamava Angela.


Checa a desculpa do moço:

"I hate that sadness in your eyes/but Angie, Angie, aint it time we said good-bye?...but Angie, I still love you, baby/Everywhere I look I see your eyes/There aint a woman that comes close to you/- (tá, vendo, ele não falou nada sobre homem? sorry, não resisti à piada...)

O líder da maior banda do mundo nunca confirmou o boato, também nunca desmentiu.

Três anos após a revelação na TV, Angela Bowie escreveu o livro Backstage Passes: Life On the Wild Side with David Bowie, em que detalhou mais peculiaridades de seu casamento com Bowie, inclusive das orgias de que ambos participavam enquanto casados. Os dois se conheceram durante um sexo a três com o executivo Calvin Mark Lee quando ela tinha 19 anos, em 1969. (ah, a modernidade...)

O que foi? junkie careta agora virou a Caras do mundo virtual? Colunista de fofoca? Que decadência...(o que a tristeza e uma monografia inacabada não fazem na vida de um homem..)

Não é nada disso.
A razão é que às vezes a gente ouve uma música e não tem idéia do que a moveu. Isso também é legal, a idéia que cada um faça de uma mesma frase um espelho, que veja o que quer ver, é fantástica, é um desses atributos que fazem desse presente divino(ou diabólico, como dizem alguns) um alento pra alma. Ao longo desses anos pesquisando essa paixão, descobri uma série de histórias por trás das letras que achei que vocês poderiam gostar. Algumas são conhecidas (como a do Bowie e Mick), outras são coisas de fã, menos conhecidas. Compartilho aqui com vocês e espero que vocês possam se divertir ao lerem. Elas serão contadas bem mais rápidas dos que as duas anteriores que foram só pra chamar sua atenção, faremos de forma mais dinâmica.Não tem um período específico, são aleatórios. Você deve encontrar aqui e alí uma que conhece e outra que não conhece, só evitei as muito conhecidas, (principalmente as da época da ditadura, que você já ta cansado de saber pelo seu professor de história ou aquele seu amigo mala que só fala em MPB, o imperialismo americano e coisas afim). Nota: eu disse SÓ FALA NISSO.


Na maioria das vezes, o critério foi gostar do artista, outros é só porque é uma boa história.

Desde que Dylan salvou o rock da adolescência, qualquer tema passou a ser objeto de inspiração para o compositor. De qualquer forma quem quiser acrescentar, que conte outra, como dizia aquele personagem daquela série de livros infantis do Monteiro Lobato, que virou um famoso programa de Tv.

Entendeu agora?


Pra facilitar a vida de todos, eu coloquei o link com os vídeos. basta clicar em cima do título da música.


Vamos lá:


Começando com o Oasis.

- "
Don't look back in anger" é um fragmento de uma conversa de Jonh Lennon, e
”wonderwall” é o título de uma trilha sonora composta por George Harrison em 69. Os maravilhosos rude boys do Oasis adoram os Beatles(apesar de dizer que não) e devem boa parte de seus sucessos iniciais a eles, chegando a plagiar descaradamente os garotos de Liverpool em suas composições. "Cast no shadow" (da quase perfeição de Cd What's the story morning glory) foi feita para o vocalista do Verve, e seu problema sério com drogas.

-Em "One", Bono(U2) disseca a sua relação com seu pai (do CD Achtung baby).Basicamente o disco fala de separação do começo ao fim. Bono disse em entrevista que não entende como muitas pessoas vem ao seu encontro pra dizer que casaram ao som da música. Bono disse:

-Vocês estão doidos?o disco fala de separação!


- Na canção "4st 7lb", do excepcional Cd The Holy Bible, Richey James,(guitarrista e co-letrista) antes de desaparecer do Manic Street Preachers(excelente banda!) falava de sua luta contra sua anorexia.


- David Bowie, fez
"lady stardust" para seu ídolo Marc Boland, do T-Rex, outro semideus(ouça correndo,uma das maiores influências de Bowie).


- O Roxy Music de Bryan Ferry e Brian Eno, em
"every dream home a heartache",
fizeram uma ode à... boneca inflável!


-Caetano Veloso, esse se inspira por qualquer coisa. O homem já fez música até pra fotossíntese (!!), a perfeita canção
" luz do sol" (alegria dos professores de biologia) . Musos e musas foi o que nunca faltou pro homem:"Leãozinho" foi feita para Mu, baixista da cor do som, além da linda canção “Menino deus”. "Menino do Rio", foi feita pra um surfista que ele viu em ação e ficou encantado. "Tigresa"
foi inspirada na atriz Regina Casé(!!!) . A atriz Vera Zimmerman foi a musa de "Vera gata". Até a antipática e arrogante da Luana Piovanni (aquela namorada daquele grande ator global e excepcional cantor)... já reclamou título de sua musa). Se fossemos falar de todas as histórias por trás de suas músicas, esse post seria só pra ele.


Joni mitchell - (será que ela não é a melhor compositora do mundo?) na perfeição chamada Blue, na canção
"A case of you" , fala sobre um amor daqueles que não se esquece e se carrega pela vida inteira. Dizem que é fruto da história dela com Jacob Pastorius, deus do baixo. Nesse Cd, aliás, Joni fala de uma geração que já foi otimista, mas agora é fraca e exitante (conhece alguma geração assim por aí?) lá, você também vai encontrar uma das melhores canções já escritas por um compositor, a canção "last time I saw Richard"
(também regravada brilhantemente, por Renato Russo). É o retrato de uma vida em declínio, sobre aquelas pessoas que vivem vidas previsíveis por uma existência inteira.


- Aquele que talvez seja o melhor letrista vivo no mundo(depois de Dylan, claro), Leonard Cohen, que já era poeta e tinha escrito 2 romances-letras ricamente literárias antes de entrar na música, em "Songs of love and hate", fez uma coleção de gemas sobre o amor e sua proximidade com o ódio, baseado em suas histórias. A melhor definição que já ouvir pra esse CD não é minha, é de um crítico da Rolling Stone que eu não me lembro o nome : "é uma coleção fascinante de feridas abertas, desprezo constante e amor febril. A linha entre amor e ódio raras vezes soou tão frágil. Você tem que ouvir esse cara.(grifo meu)


- Depois de consubstanciar a teoria Freudiana em
“The end” , Jim Morrison do The Doors, na canção
“love her maddly”, faz um hino à paixão obsessiva. O Suede faria a mesma coisa quase 30 anos depois na maravilhosa “Obcessions” do Cd A new morning.


- Em
"Neighbourhood #1(Tunnels)"
, os excelentes Arcade Fire, falam sobre a fuga dos protagonistas da casa de suas famílias para se encontrarem e assim fugirem dos sofrimentos da casa de seus pais - em tempo - Os líderes Win Butler e Regine Chassagne são casados.


- Gilberto Gil na canção , no mínimo magnífica
"Drão", fala da separação de sua ex-mulher com quem tinha uma relação de muita poesia. Já te mata no primeiro verso:

"Drão, o amor da gente é como um grão/ uma semente de ilusão/tem que morrer pra germinar...".

O Menestrel, aliás, é presença obrigatória em qualquer lista das melhores canções brasileiras.
“Super homem, a canção , é um dos maiores hinos feitos sobre a condição masculina em tempos contemporâneos e é atualíssima até hoje. "A linha e o linho", é uma das coisas mais perfeitas que já se fez sobre o a cumplicidade no amor.


Transcrevo aqui pra você me dizer se eu tô errado:

"É a sua vida que eu quero bordar na minha/como se eu fosse o pano e você fosse a linha/e a agulha do real nas mãos da fantasia fosse bordando, ponto a ponto, nosso dia-a-dia/e fosse aparecendo aos poucos nosso amor/os nossos sentimentos loucos, nosso amor/o zigue-zague do tormento, as cores da alegria/a curva generosa da compreensão formando a pétala da rosa da paixão/a sua vida, o meu caminho, nosso amor/você a linha, e eu o linho, nosso amor/nossa colcha de cama, nossa toalha de mesa reproduzidos no bordado a casa, a estrada, a correnteza o sol, a ave, a árvore, o ninho da beleza"


Precisa falar mais sobre essa canção?

Aliás, mais uma vez, vou aproveitar pra dizer pra rapaziada criadora de cercas. Tem que parar com essa mentalidade de colonizado, que o que é Inglês é melhor do que o que é nacional. Anota aí: Gil, no geral de sua carreira, é tão bom quanto Molko, Morryssey, Brett Anderson, e todos esses grandes artesãos da música e letra. Se é porque você se identifica mais, tudo bem, mas, sair por aí afirmando que eles é quem são melhores, que a gente não tem nada tão bom, intenso, atraente, cool, visceral, é no minimo falta de informação!....Isso é coisa de mentalidade de colonizado! (e olha que você não tem idéia do quanto eu gosto da tríade citada.... Experimenta ouvir Mutantes,Walter Franco, Arnaldo Batista(carreira solo),Tim Maia(especialmente a fase Racional), Roberto Carlos fase soul/funk,( quando voltou maconheiro dos EUA e teve coragem de romper com a imagem de "namoradinhodo Brasil"), Sergio Sampaio e muitos outros pra ver o que acha. Vou parar por aqui só pra não perder o foco.


- A belíssima canção de Milton Nascimento(que eu acho chatíssimo, apesar de reconhecer o brilhantismo)
"Beatriz", foi feita para a atriz Beatriz Segall em reconhecimento ao seu talento.


Sexo e Drogas certamente são os temas mais recorrentes no rock. Sobre drogas, veja alguns exemplos:


-
"Special k"
do Placebo - Nada mais é do que a Ketamina, uma pilulazinha que se andava vendendo nas boates londrinas que deixava as pessoas bem relaxadas e erotizadas, deixando a libido à flor da pele. É claro que Mr Molko se viciou.

-
“Drugs don't work”
, do lindo Cd Urban hymes do ótimo Verve, é um hino triste sobre a morte do pai do vocalista Richard Ashcroft.


- Em "Dig in the hole", os irmão químicos (hummm... êta nomezinho bandeiroso...) Chemical brothers, falam abertamente de ecstasy.


- Os Happy Mondays(esse nome é ótimo...) no maravilhoso Cd Pills, thrills and bellyaches, não fizeram só uma canção, fizeram desde o título do álbum(sobre as consequências das noites regadas a ecstasy, coca e heroína) uma ode à chapação.


- Beatles, vou citar só três pra não esgotar o tema.


"Fixing a hole" é Paul descrevendo um barato que teve depois de fumar umzinho. It's getting better” é uma ode à erva, onde Lennon diz que desde que a conheceu tudo ficou melhor. Até hoje não se sabe se Lucy in the sky with diamonds é sobre uma inocente pintura do filho de John,(no desenho, uma colega de Julian, chamada "Lucy passeava pelo céu com diamantes"), ou é de fato, uma descrição de uma viagem de ácido) por causa das iniciais do nome da música(LSD)


- Os Rolling Stones, em parceria com a groupie-mor Marianne Faithful, em
"Sister morphine"
, contam uma sombria história sobre o vicio no bom Cd Stick finger(aquele da capa feita pelo Andy Warhol). Na época Marianne e Keith Richards se encontravam enterrados na heroína. A morfina seria para acalmar a dor, daí, a louvação.


- Um dos pilares da estética sex, drugs and rockn’roll, e uma das pedras fundamentais do rock, o Velvet Underground tinha sempre a presença da droga em suas temáticas. A ode a heroína é explícita em
"heroin" . Em
"waiting for my man" adivinha quem é o homem? O mesmo "Dr. Roberts" dos Beatles - Um traficante. Aliás, No brutal White light/White heat , eles defendem abertamente o uso de anfetaminas na faixa título, já em 67.


- "Poledo" dos essenciais e não-reconhecidos Dinossaur Jr (que banda...que guitarrista...), foi uma letra feita sobre o efeito de um baseado. Observe a letra e perceba o que a erva pode fazer com percepção de um músico.


- No excelente Blood Sugar Sex magic, na canção
“under the bridge”,
Anthony Kieds do Red Hot Chilli Peppers, nada mais faz do que uma apologia à heroína. Já vi adolescente oferecendo essa “canção de amor” pro outro em rádio...

Mudando o tema:


- Em
"Bodies"
, da melhor farsa que o rock já teve, o maravilhosamente descarado Cd Never mind the bollocks, os Sex Pistols falam de aborto.


- Em
"She's lost control" , o semideus e outro candidato a melhor letrista de todos os tempos, Ian Curtis do Joy Divison narra suas experiências como epilético. (Ai meu Deus, agora virou moda, por causa do documentário e do filme... meu coração de fã não vai aguentar...). Alguém por favor, se compadeça de mim, e me mande o documentário sobre ele ou o filme, pelamordedeus!)


-
"My, my, hey, hey"
, do deus Neil Young, nada mais é do que um reflexão sobre a natureza passageira do estrelato. O fato mórbido que aumentou a curiosidade em torno dessa canção é que Kurt Cobain do Nirvana a citou no bilhete que deixou ao se suicidar. Young ficou tão sensibilizado com a perda do jovem talentoso que fez um Cd inteiro sobre ele (o sublime Sleep with angels)


-Morrissey, ainda nos Smiths (alguma dúvida que foi a última banda original do mundo?) em
"big mouth strikes again" , sacaneava a crítica que o chamava de muito desbocado e os Djs alienados que vivem no mundo da lua. Criou o verso mais odiado por Djs de rádio do mundo, por causa do refrão "Hang the dj" , (enforquem o Dj (!) que além de tudo, ainda se viram obrigados a tocar a música nas rádios por causa dos pedidos dos ouvintes. No Cd Meat is murder (redundância dizer que é ótimo) na canção “How soon is now", (melhor música pop já escrita, segundo uma boa parte da imprensa britânica) ele lamenta uma juventude perdida sendo ignorada em boates. Em “paint a vulgar picture” , Morrissey já atacava a industria do disco antes de Lobão(1987), só que em música. Reza a lenda que I won't share you , fez com que o baterista Mike Joice tivesse um ataque de choro no estúdio na gravação. Eu não tava lá, mas, já chorei ouvindo.


- O Sonic Youth no bom Cd Goo, na canção
" Tunic"
falam sobre a morte de Karen Carpenter (dos Carpenters) de anorexia. Talvez você nunca tenha ouvido falar, mas, sua mãe e seu pai os adoravam, e dançaram agarrados ao som dos irmãos quando você ainda tava na barriga.


- Em
"Till death do us apart" ,
do belo CD Like a prayer, é de sua noite de terror nas mãos de Sean Penn, amarrada em uma cadeira, que Madonna está falando. Ele, à propósito, é confesso, a grande paixão de sua vida.


- Não se engane, é dos seus pais que Billy Corgan está falando em
“Disarm” , na perfeição chamada Siamese dream. Em “space boy”
, é a seu irmão que tem deficiência mental, que ele se refere.


E aquele assunto que todo mundo adora falar? bom, se fossemos falar de letras falando de Sexo, nem o blogger.com inteiro teria tanto espaço. Só pra citar os que eu mais gosto:


- Marvin Gaye em
“Sexual healing” , (do Cd homônimo) propõe como cura pra todos os males (já pensou?) e como já disse antes, em poucas vezes na história da música se foi tão cara de pau, poucas vezes se fez uma canção pra se criar um clima melhor que “Let’s get it on”
(do também Cd homônimo).


-Prince (quase sempre perfeito), cuja carreira é perpassada em sua fixação sexual, no Cd Diamomds and pearls, lança
"Get off” , uma das maiores odes explícitas ao sexo, desde o título. No Cd 1999, a canção “DMSR” nada mais é do que um romance sexual em ritmo de disco music.


-Pj Harvey em seu Cd Dry, transpira sexo.
“Sheela-Na-Gig” é uma referência a antigos símbolos da fertilidade feminina. Na outra obra prima Rid of me, na canção homônima
, já introduz (oops) dizendo: “lick my legs/ I’m on fire”(lamba minhas pernas/ estou em chamas).


Os rappers contemporâneos quase só falam sobre esse tema (e aí é que mora o problema... Será falta de talento pra falar sobre outro tema? Com caras como 50 cents, quase tudo termina lá.


Como já disse, ainda prefiro o Marvin Gaye que com seu Cd Let's get it on abordou o tema do começo ao fim e não ficou cansativo ou apelativo (e nesse sentido passa a ser temático, assunto pra outro post...) Tá tudo lá, aquelas cordas sensacionais, aquele climão, os sussurros, aquele jeito de cantar beirando a perfeição.


Mudando de assunto, de novo...


-Em The boatman's call, um dos melhores álbuns de rock sobre separações, Nick Cave destila sua dor pela separação de P.J Harvey, com quem viveu. “West country girl” e Black hair", seriam sobre ela. Decididamente não é um álbum recomendável pra quem se separou... Nick é só pessimismo, embora comova. Ele fecha o cd com a dilacerante "Brompton oratory”. Na canção, você não sabe se o ente querido que ele chora, está morto ou não.

- A canção “Miss Jackson” do Cd Big Boi and Dre Present...Outkast, é o ponto de vista de Andre 3000 do Outkast, sobre a sua separação de Erikah Badu. Já o dela, foi um Cd inteiro, o belíssimo Mama's gun. Especialmente na faixa "Green eyes" e "it's too late".


- A ótima Beth Orthon na canção
Pass in time” ,
do excelente Cd Central reservation fala da morte da mãe. Realmente comovente.


- Em
“Mother” ,
Lennon no belo vôo solo John Lennon/Plastic OnoBand, canta a perda e a incurável falta de sua mãe, apesar do passar dos anos. De cortar o coração do mais durão dos durões. Quem já ficou sem esse presente de Deus na terra sabe do que ele tá falando.


- Tori Amos, no dilacerante Little earthquakes, na canção
“me and a gun”,
narra à capela, a história de como foi estuprada por um fã-maníaco ao final de um show(minhas amigas cantoras, cuidado com quem se aproxima...), exorcizando sua dor. Não ouça se tem coração e estômago fraco. Uma das coisas mais tocantes que já ouvi.


-Depois de ter vários abortos espôntâneos, Sinéad O'Connor chora a morte de seus filhos na canção
“Three babies” .
Siga o mesmo critério adotado na Tori amos. É de doer na alma.


-
“Kite” ,
do Cd All you can't live behind do U2, foi escrita para o pai de Bono que estava morrendo.


-No injustiçado In útero do Nirvana, na canção
“serve the servants” ,
Kurt está perdoando seu pai ausente.


- Em
"53rd and 3rd" , d
o primeiro disco dos Ramones e pedra fundamental do punk, o baixista Dee Dee conta sua experiências como michê!!!


- Renato Russo em duas canções fala delicadamente de sua homossexualidade.Quase ninguém percebeu na época.

Em “soldados” :

Tenho medo de lhe dizer o que eu quero tanto/ tenho medo e não sei o que estamos esperando”.

E “Daniel na cova dos leões”:

Mas tão certo quanto o erro de ser barco a motor/ e insistir em usar os remos...”.

Já em “Meninos e meninas" ele se descobre bi-sexual.


- Elton John no belo Cd Goodbye yellow brick road, no tempo que sabia compor, antes de ficar milionário e fazer uma "Nikita" por ano, na faixa
"All the girls love Alice" ,
fez o que talvez tenha sido a primeira canção a falar de lesbianismo.


- No belíssimo e confessional Ingénue, K.D. Lang , finalmente se expõe ao seu público, arriscou toda sua carreira em seu país conservador, assumiu sua homossexualidade e depois que já era sucesso o público adorou saber que
“wash me clean” e
Miss chatelaine , foram feitas inspiradas pelo desejo dela por uma mulher casada.


- No Cd VERY, os Pet Shop Boys incluem a canção “to speak is a sin” dizendo que ela foi feita, “pros que estão no armário”.


- Na obra prima do Pulp, Different class, o brilhante Jarvis Cocker na canção
"I spy" ,
fala de seu voyeurismo.


- Não, você não se enganou, na canção “range” é o Smashing Pumpkins e Stone Temple Pilot que os caras do excelente Pavement estão sacaneando, no sensacional Cd
Crooked rain, Crooked rain.


- Em
“Paranoid android” ,
o Radiohead, no Cd Ok, computer, (concorrente de a melhor obra da década de 90), Thom Yorke, fala do jet set enlouquecido pela cocaína. O titulo foi tirado do livro "o mochileiro das galáxias" de Douglas Adams (li e não achei nada demais).


- O deus vivo Bob Dylan é o letrista por excelência. Eu faria um blog inteiro só pra falar de sua importância pra cultura ocidental e de suas letras(idem para os Beatles). Podia usar aqui, quase qualquer uma de suas músicas, vou no clichê: “Like a rolling stone” é simplesmente os anos 60, retrato de uma geração inteira. Absolutamente perfeita.
"Ballad of a thin man" ,
é o atestado dessa mesma geração só que, surpreendentemente, com medo de mudar. Essa canção a propósito, é pura história. Dylan a canta corajosamente, enquanto ao fundo, ainda se ouve ecoar o grito de "Judas!". Uma geração que outrora era libertária e de repente se viu conservadora quando seu representante oficial, quis eletrificar seu som, abandonando o já defasado folk music da época.Dylan debocha, com a ironia e coragem fazendo a perguntaque não queria calar:

"Cause something is happening here/but you don't know what it is/do you, Mr John?

Não se deixe levar pelo novidadeirismo, Dylan é deus. Descubra a obra desse cara.



Se você teve a paciência de chegar até aqui, obrigado e parabéns. Sempre me perguntam: por que seus posts são tão extensos? No mundo virtual as pessoas tem pressa, ninguém tem tempo e paciência pra ler literatura. Não tenho nada contra quem tem essa proposta, pelo contrário, adoro passear nos blogs dos meus amigos virtuais que registram seu dia-a-dia. Me divirto com eles. Eu é que não sei fazer assim(acho que registro mais o meu dia-a-dia no outro blog, o Spleen Rosa Chumbo, só que em pretensos poemas em prosa). Pode ser talvez, pela minha titânica preguiça, sei lá. Pode ser também até por opção ou falta de competência no poder de síntese. Na realidade, acho que a proposta do blog é essa: Cultura inútil (alguns até dizem que é útil e até esperam os posts , acreditam?) pra você ler quando tiver um tempinho no meio dessa sua correria, dessa sua vida louca. Só posso dizer que já são vários amigos pelo Brasil afora e outros em outras terras que extrapolaram o espaço do blog e alguns já são mais próximos e nos falamos por MSN (já ganhei cada e-book, artigo, matéria que sempre sonhei...), e-mail e alguns mais próximos ainda, até por telefone. Obrigado a todos vocês pelo suporte no momento especial.


Enfim, poderia contar várias outras histórias, são muitas. Espero que vocês possam ter gostado e se divertido um pouco. Não se esqueçam de contarem a sua se tiverem uma ou de corrigir alguma informação errada.


Tái. Junkie Careta, o homem dos posts quilométricos.


Até a próxima.