Wednesday, April 16, 2014

O QUE É ESSE TAL DE SERTANEJO UNIVERSITÁRIO? Tá em todo lugar. Onde você anda tem um outdoor te convidando, tem alguém twittando, propaganda na TV, chamada no rádio. E eu aqui sem saber nada sobre matéria tão complexa... Pedi ajuda para o São Google e para holy Wikipedia e descubro toda uma historicidade explicando que foi o terceiro movimento da música sertaneja (teve dois antes? meu Deus!) e os precursores são: João Bosco (meu Deus, até ele?) e Vinícius (até tu meu irmão, sangue do meu sangue? Até tu Brutus?). Descobri que o estilo surgiu quando muitos jovens, na década de 90, oriundos de regiões interioranas dos estados, ingressaram nas universidades. Com isso trouxeram seus violões e romperam definitivamente com o estigma do universitário que era associado ao rock in roll e às canções politizadas. Somaram a isso instrumentos modernos como guitarras, baixos, bateria e abandonaram as violas, e a mer... digo, a transformação foi feita. A minha teoria óbvia é que esses caras faltavam todas as aulas, especialmente as de português e literatura e iam encher a cara ou serem traídos para poderem se inspirar com tanta dor de cotovelo! Haja desconsolo. Diante desse histórico tão rico e partindo do ponto de vista que o sertanejo é universitário (wow!) e que o uso desse termo agrega um grande valor ao estilo, não consegui parar de me perguntar algumas coisas: Que universidade? Particular ou pública? Fez o provão do MEC? ENEM? Teve vestibular agendado? Fez o teste da OAB? Teve prova substitutiva? Qual é o próximo passo? Quando o sertanejo universitário perder a áurea de chique ou menos respeitável, o que vira? “Sertanejo Ensino Médio”? E se ele progredir na titulação, qual é o próximo passo? O “Sertanejo Com Especialização”? Depois o "Sertanejo Mestrado"? Na sequência o "Sertanejo Doutorado"? Até finalmente no Phd! Esse eu pago pra ver, porque se depender das rimas e da pobreza harmônica e melódica, só vão continuar nessa plêiade de intelectuais: Pena Branca e Xavantinho, Almir Sater, Renato Teixeira, Rolando Boldrin e outros doutores. Compare coisas como "O cio da terra" gravado por Pena Branca e Xavantinho, com letra de Chico Buarque e Milton Nascimento, gravado inclusive com Milton ("Debulhar o trigo, recolher cada bago do trigo...), ou "Tocando em frente" com Almir Sater (“Conhecer as manhas e as manhãs, o sabor das massas e das maçãs..." ) ou "Romaria" de Renato Teixeira ("sou caipira, pira, pora, nossa, senhora de Aparecida..."). Compare com todas as letras desse sertanejo atual juntas. Não dão nem metade de uma pérola como "Romaria". Fico com a impressão que desde que a música caipira mudou para música sertaneja, assim como duplas caipiras viraram duplas sertanejas, muita coisa se perdeu no caminho. As melhores coisas aliás. E pior, usando o discurso de “modernizar a música caipira” como justificativa. Modernizar, é? Há controvérsias ou eu é que tô jurássico? Vamos usar a mesma estratégia para resgatar a dignidade de alguns estilos? Vamos criar também o "Pop Universitário"? O Reggae Universitário? (pra lembrar para essa galera que reggae é mais do que uniforme da Jamaica e Oi-Oi-ô- e colocá-los para ouvir Marley, Burning Spear, Tosh, Joe Highs nos próximos 15 anos). Vamos aproveitar para exigir o “Político Universitário”! Aliás, acrescentar “universitário” para emprestar mais valor ao tag? Tá precisando de dignidade o rótulo? Compreendo que os rótulos de alguma forma ajudem, pra efeito de organização nas prateleiras. O que eu tô condenando são esses tags completamente estúpidos, que não tem nenhum fundamento. Na confusão dos rótulos, conceitos inconciliáveis foram colocados juntos na mesma panela, confundindo mais do que explicando. Mas, é compreensivo, eles fazem isso com pessoas também. É isso aí, um grande dia para todos, de nível universitário! (Artigo publicado na coluna do jornalista Alex Palhano e no jornal O Imparcial)