Tuesday, November 27, 2007

CONFESSIONÁRIO VIRTUAL


Sabe aquele segredo inconfessável que você queria colocar pra fora, aquela sua atitude deplorável que até você se decepcionou consigo mesmo, aquela que você não teve coragem de contar pra ninguém e guardou lá no mais recôndito sótão do seu inconsciente, mas , volta e meia ela vem à tona e te incomoda, espancando a porta do consciente em forma de culpa, de mau humor, de silêncio e você não tem dinheiro suficiente para pagar as consultas do psicanalista?pois é, você não está sozinho, as muitas confissões( a última vez que vi eram 180.000) dos usuários do
Post secret
http://www.postsecretcommunity.com/ provou que a página era mais que uma nova grande fad do ano que foi lançado. Os muitos outros posts ainda este ano, estão aí pra te provar isso. Já são mais de 100 milhões de viewers. A coisa é muito simples, é uma espécie de divã virtual, uma comunidade onde são publicados os segredos confessados pelos que receberam os postais caseiros, só que sem se identificarem. Só tem uma única regra; ele pede que você fale somente se for verdade. É um projeto de arte, e de alguma forma, se fundamenta naquela teoria de Arthur Janov, (um dos gurus de John Lennon já na carreira solo). Segundo ele, o acúmulo de dores emocionais, afeta a saúde mental, a solução estaria em resolvê-los admitindo o que te faz sofrer, livrando-se dele, entre outras coisas, gritando bem alto, colocando-o para fora. A essa terapia, chamou de Primal Therapy. Nos anos 80, quem a retomou foi o Tears for Fears (shout, shout, let it all out... lembra?não? então pergunta pro teu irmão mais velho).

Voltando para a idéia do confessionário virtual, começou com ele mandando o cartão caseiro para as pessoas e, como já disse, elas escreviam o seu segredo nele, com o compromisso de ninguém saber quem elas eram. A coisa foi evoluindo e hoje, você acessa a página e faz a sua confissão on-line, seguindo o mesmo esquema de antes, só que agora virtual. E, meu amigo, como tem confissão!

Definitivamente as pessoas estavam ou estão precisando desabafar.Um ponto muito importante: você não se identifica. Isso talvez explique o alto teor de verdades ditas na página. A idéia é que depois de você faça a sua confissão, você se sinta mais leve. E se você tá pensando que vai encontrar só coisas leves do tipo: “tirei dinheiro da carteira do meu pai”, você vai cair do cavalo. As confissões vão das poéticas até as bem ácidas, às vezes até chocantes. Do mero desabafo até coisas só para Freud, Jung, Lacan, ou outro especialista da psique humana tratar.

Veja essas bem poéticas:
- Espero as pessoas juntarem as folhas, quando elas saem, e ninguém vê, eu as espalho todas no ar.
Vindo de uma garotinha, no surprises, mas quando isso vem de uma senhora de 50 anos, tem outro sabor!

Adoro essa:
- Minha avó pediu pra eu ensiná-la a mudar o recado da caixa de mensagens do telefone desde que meu avô morreu. Eu ainda não ensinei, assim, toda vez que sinto falta dele, é só ligar pra ela...

As Freudianas, tipo:
- Uso roupas audaciosas na frente dos amigos do meu marido para deixá-lo excitado”(!!??).

As Rodrigueanas:
- Dormi com o marido de minha irmã, 15 anos depois que tiramos essa foto.

Até as mais simples , do tipo desaforo pra os colegas de trabalho:

- Só porque eu sou a assistente administrativa, e me sento na recepção, isso não faz de mim a sua secretária pessoal, seu babaca!

Tem as bem engraçadas do tipo:
- Quero perder a minha virgindade dentro de um elevador. (Criativa a moça, né?)

Tem mais uma sobre espécies em extinção que é ótima:
- Vou perder a minha virgindade agora na minha lua de mel. (Elas ainda existem!!!)

Outra bem incomum:
- Eu e meu marido continuamos virgens depois de 18 meses de casados (!!!!)
e somos muito felizes. Também conhecemos mais pessoas na mesma situação e nem por isso deixam de ser felizes. (tá vendo, bando de hedonistas como eu?... nós é quem somos uns limitados...)

Tem as de adolescentes em crise:
- Tenho vergonha de ser virgem...

-Bem engraçadas do tipo:
- Será que só eu me pergunto se os pais dos outros serão bons de cama?(aposto que ela não tá sozinha...)

Mas, as minhas prediletas, são aquelas que realmente não se falam por aí, aquelas que espantam e me fazem pensar que , como disse um desses baianos por aí: “de perto, todo mundo é louco”, que a substância de que nós, seres humanos somos feitos, é realmente imprevisível, surpreendente, e uma pessoa do seu lado que está rindo, pode ser um psicopata, ou pode estar sofrendo na pele o fogo do juízo final, como disse um conterrâneo nosso, ou carregando o peso de uma culpa titânica, remoendo dores pro resto de uma vida, sem que ninguém saiba. Duvída? Olhe algumas postadas:

- Doei um fígado porque queria morrer.

- A vida é melhor somente pros outros ou eles simplesmente sabem disfarçar melhor?

- Tô assustada em perceber como é fácil disfarçar a minha doença mental para meus pais.

- Meus pais não sabem que eu sei que eles queriam ter tido um menino, e não eu.

- Convidei uma garota Judia para sair, ele me disse não. Depois fui pra casa e no youtube, vi um discurso de Hitler. Me senti confortado. (inacreditável...)

Isso porque, eu tô citando os comentários do último post, se eu fosse falar aqui dos outros muitos casos como : abuso sexual, incriminar alguém inocente e colocá-lo na cadeia por inveja, humilhar por prazer, exibicionismo, casar por puro interesse financeiro, roubar por diversão, preconceito, vingança, entre muitos outros, teríamos que fazer desse artigo um
e-book.

O negócio virou livro, Cd, Dvd e vende como água. E, se você comprar alguns dos produtos, parte do que vendem é pra garantir que não haja patrocinadores na página. Fiquei viciado um tempo e até comprei um(Érico, me devolve!!!!)

Hoje, você já pode postar o seu secret vídeo( é isso aí, registrar a sua confissão em imagem) ou se preferir, gravar o seu segredo com a sua voz no secret voices . Se quiser, pode simplesmente ouvir os segredos dos outros. Recomendo o tocante "Please help me through this..."


http://www.postsecretcommunity.com/voices

As opções estão aqui:

http://www.postsecretcommunity.com/


Diante dessas confissões, o junkie careta aqui, se pegou wondering: e se fizéssemos um confessionário virtual aqui em nossa bela província? Será que não nos surpreenderíamos também, riríamos, ficaríamos chocados? Então faço a proposta, a coisa é bem simples também e vai emular o modelo norte-americano: Confessa aí, se abre com a gente, deixa a tua mensagem aqui. De repente, quem sabe, isso até te faz sentir melhor. Não precisa deixar seu nome, estar logado, nada.
Cria um nick se quiser. Se você sentir vontade, é só deixar aqui o seu desabafo. A única regra é falar a verdade. Só. Se o Janov estiver certo, você vai estar mais leve.
Não precisa ser trágico, cômico, whatever. Tem que ser o que você quiser. Ninguém vai saber que é você.

Losers de todo o mundo, uní-vos!

O confessionário está aberto, o divã está colocado. Fique à vontade.

Thursday, April 26, 2007

NO STEREOTYPES !




Ontem fui a uma festa meio chata. O que salvou a noite foram três figuras muito exóticas e inteligentes que encontrei: Um regueiro, um rockeiro e um estudante de filosofia. Eles estavam vestidos bem à caratér para o que são.Ficamos conversando até às 5 da manhã.
Menti.

A festa em questão, não existiu, foi só pra você exercitar a sua imaginação. Mas, eu pergunto: Como é esse regueiro que você imaginou?posso tentar adivinhar?por acaso ele tinha um cabelo rasta e vestia roupas coloridas com a predominância do preto, amarelo e branco?

E o rockeiro?Por acaso ele tinha várias tatuagens no corpo, talvez usasse piercings, talvez um cabelo grande e , é claro, se vestia todo de preto com uma indefectível camisa da banda predileta dele.

E o estudante de filosofia?Talvez você tivesse imaginado que ele usasse uma tiara para prender o cabelo para trás,uma calça de algodão colorida, camisa hippye, barba por fazer ou hermânica, dessas que lembram o Camelo ou o Amarante e é claro, ele estaria de chinelos,preferencialmente uma havaiana(olha o comercial!) porque estudante de filosofia que se preze, não vai usar nenhuma sandália burguesa!E abaixo o sistema, o capitalismo, o imperialismo americano!Viva marx, Che!

É óbvio que o capitalismo talvez chega a grande praga inventada pela humanidade, Marx até hoje não foi entendido e certamente é um dos pilaraes da inteligência ocidental, Che foi um herói e os americanos se acham a polícia do mundo, representantes do próprio Deus na terra. Deus, aliás, é americano, e não brasileiro como pensam os terceiro-mundistas!Mas não quero falar disso. Quero falar de ESTEREÓTIPO, essa coisa que faz a gente ter uma visão pré-concebida e que a industria do consumo soube e sabe tão bem explorar e inculcar em nosssas cabeças.É quando a idéia já foi tão absdorvida que virou imaginário.E qual a relevância disso meu querido projeto de crítico?por acaso vc vai negar que esses simbolos não pertencem ao imaginário dos estilos e classes(!!)em questão?agora não se pode mais ter referências?Não é nada disso. É óbvio e natural que se se associe alguma imagem à alguma idéia, que elementos de uma cultura passem a ser reconhecidos pela força de sua imagem, às vezes pelo choque,pela originalidade e outros zilhões de razões.Quero falar aqui de um comportamento muito comum em nossas vida social quando acabamos deparando ou vivendo uma situação(às vezes até hilária) quando constatamos que forma e conteúdo andam em conflito. Vou citar um exemplo e você me diz se não conhece algo parecido:

Estou em São Luís do Maranhão e toco em uma banda que começou como um tributo a um artista que todos da banda adoram: Bob Marley. Seja pela suas belísssimas melodias,sua postura dentro e fora do palco, sua fé,convicção e seriedade ou por sua prodigiosa banda com uma das melhores cozinhas(baixo-bateria) que a música já deu ao mundo,escolha uma razão.Fomos tocar em um evento dedicado a Marley e antes de subirmos ao palco, foi abordado por uma figura que me perguntou: VOCÊS que são a banda que vão tocar?não parecem uma banda de reggae. Perguntei : Por que? resposta: ninguém tem uma dread. uma trança,tão vestidos todos de jeans e camiseta? que p* de visual é esse pra uma banda de reggae?sinceramente não sabia se eu ria ou chorava da declaração do meu amigo...Quer dizer que se marley não tivesse aquelas dreads perfeitas e não seguisse o "estilo regueiro" ele teria dificuldades de ser aceito ou não tocaria e cantaria o que cantava, e seria menos "regueiro". É nesse ponto que passamos a ter um problema, é quando a forma se torna mais importante que o conteúdo. Reparei também que meu amigo dizia Jah Rastafari! a cada música tocada pela radiola e perguntei a ele o que era o tal do Jah. Ele me disse:
- Tu toca reggae e não sabe quem é Jah?
Eu falei:
-Não, me ensina.
O meu amigo se enrolou, se enrolou, se enrolou e limitou-se a dizer que Jah era... e continuou enrolando.Por fim, já com raiva de mim, safou-se com uma resposta bem reducionista que resolveu um certo constrangimento em que se encontrava:
- Jah é tudo!
Então tá...Não posso culpar o meu amigo. Informação ainda é moeda de alto valor, e, nas maioria das vezes, ainda é propriedade de uma minoria privilegiada, que na maioria das vezes não a usa pra esclarecer. Ao contrário, até a usa para manipular.

Eu, pobre devoto de Marley desde a mais tenra adolescência e consumidor voraz de biografias do deus negro, me perguntei: O que ele faria se soubesse que o próprio Marley, antes de sua morte, encontrava-se abalado pelas estripulias de Haile Selassie (o Rei da Étiópia,o Jah- Rastafari,tido como representante de Deus na terra pelos Rastafaris) que, enquanto a população da Etiópia passava fome, alimentava seus leõezinhos de estimação com carne de primeira? sem contar outras...Não quero aqui, desabonar a fé de ninguém, mas pontuar algo que considero que mereça reflexão, sobretudo considerando que a imagem vendida lá fora é que somos "a Jamaica brasileira".

Em outra situação, fui a um festival de bandas de rock onde um certo vocalista subiu ao palco todo de branco(!!). Abominação! recebeu uma sonora vaia de um punhado de batmen que gritavam: sai daí pai de santo! (rsrsrsr)vaza daí! Sem noção!que p* de rockeiro é esse?e eu que tinha adorado o que considerei uma atitude transgressora do vocalista, não entendi a reação de metade de Gotham City! aliás, SEM NOÇÃO? qual é a noção que há em pleno nordeste, São Luís, quase 40 graus e ver, em pleno meio dia, um menino debaixo de um sol escaldante, todo de preto dos pés à cabeça,suando em bicas em nome do rockn'roll?

Só um reminder: O rock nasceu como uma atitude transgressora tanto no sentido musical como estético,chocando-se com os modelos de canções norte americanas das décadas anteriores à de 50,como as de Gershwin e Cole Porter(conservadoras, porém belíssimas). Eram a grande referência no mainstream na época e quem inspiravam as regras de comportamento. O R&B e o soul , ao se unirem, já haviam preparado o caminho para o rock, mas, a grande mistura que o pariu foi o blues, o country e o jazz. A idéia era ser diferente. Hoje, quando vou num evento desses e vejo todo mundo IGUAL,(parece reunião de motoristas de funerária), fico incomodado. Criou-se a farda rockn’roll(FARDA??!!). Será que eu tô ficando um tiozinho gágá e conservador?Eu deixo a reflexão de que, será que já não tá na hora (ou passou dela!)de rever alguns conceitos? Aliás , você acha que o massacration tá fazendo o que? elogiando?A coisa é tão engraçada que até os ícones do pop descartável se utilizam dos clichês da estética(ou estática!)rockn'roll ad infinitum, quando querem passar uma imagem rebelde e fortel, sem esquecer, inclusive da infaltável distorção(porque roqueiro que é roqueiro tem que usá-la!).Duvida? Então veja essa pérola que separei pra você :
Notou quase todos os clichês do rockn'roll diluídos e formatados lá? roupinha de couro preta, tachinhas, agressividade, sensualidade, cabelos em desalinho,guitarrinhas distorcidas, moto,carinha de mal...Ah, você notou que era... a Britney Priest, oops, digo Spears(!!!) né?reparou o título da música? é isso aí: I LOVE ROCKN'ROLL !E se depois dessa, você ainda acredita que, só usar o "visual rockn'roll" garante algum caráter de rebeldia, você é um sujeito de muita fé!Aliás, alguém aí ainda sabe me dizer o que é esse tal de rockn'roll depois de tantas blasfêmias feitas ao seu santo nome?

E só pra bagunçar os clichês:

- Bob Marley tocando "redemption song" com sua pegada tosca é muito mais, cru e verdadeiro, portanto , mais "rock" do que ALGUMAS 100 bandas de garotos de cabelos liiiiiiindos, imitando Malmsteen, Steve Vai ou John Petrucci. Hair show!

- Talvez a melhor banda de rock "pesado",contemporâneo,(naturalmente, em MINHA Modesta opinião) o Queens Of The Stone Age, cuja liderança está em controle de Josh Homme (foto acima), é uma das maiores usinas de riffs pesados e criativo do mundo, é loiro, olhos azuis, com pinta de galã, é tem cabelo curto!

- Um Dylan da década de 60,com seu violãozinho e seu verbo cortante, pode até produzir um efeito mais devastador do que ALGUMAS 10 bandas com guitarras no talo, arrebentando a caixa de som.

- Um Tim Maia à capela, cantando com aquele vozeirão, pode te acertar um dia com a potência daquele Marshal, daquela grande banda que você gosta.

- Elis Regina cantando "Como nossos pais" ou até mesmo um bolero (sugiro: " me deixas louca") ou "atrás da porta", com a alma na ponta da garganta, ainda pode até ser mais visceral do que Aquele vocalista gritando a 10 cds que o sistema não presta.

- deuses e semi-deuses do olimpo rockn'roll, da mais alta confiabilidade e com grande contribuição para a originalidade e dinâmica do edifício rockn'roll, como David Bowie ou Brian Ferry sempre se vestiram como quizeram, desprezando o que o rock fashion da época ditava ou dita, não importando se era a ditadura da boca-de-sino do flower-power, ou do xadrez e da flanela do grunge.Ou você tem coragem de dizer que esse elegantíssimo senhor de colete na foto não é relevante pro rock?

- Você diria que esse lorde aí na foto não é um filófofo porque não parece com o prótótipo pré-estabelecido pelo imaginário coletivo? Pois é, ele é Jean Paul Sartre que deixou para o mundo, obras do porte de "o ser e o nada" e "critica da razão dialética" e é um dos maiores filósofos de nossa sociedade contemporânea.

E antes que me interpretem erradamente:Não. EU NÃO ESTOU FALANDO de você que adora a sua banda e quer estampá-la no seu peito. EU NÃO ESTOU FALANDO de você que gosta de se vestir de preto por se identificar com a cor, ou por simplesmente gostar . EU NÃO ESTOU FALANDO de você que gosta de ter seu cabelo grande porque gosta e pronto! Aliás , esse junkie careta que vos fala, usou cabelo grande por 10 anos(!!!) até o dia que se olhou no espelho e disse: esse seu visual está cansado,não te traduz mais. Enjoei daquela aparência,cortei.

TÔ FALANDO DO LADO RUIM DA LARANJA.Eu estou falando da distorção(DISTORTION!), da incapacidade de diferenciar, de ser engolido pela forma em detrimento do conteúdo,de virar uma caricatura anti-social porque alguma publicação, ídolo, estação de TV, te plantou essa ideologia e essa estética e você não percebeu que está sendo manipulado. Tenha o visual que você queira, ouça a música que você queira, pense o que você queira, mas, saiba PORQUÊ, pra não ser vítima da indústria midiática, pra não ser fantoche na mão dos comandantes do mainstream . Não se iluda, that's ALSO business man!. TAMBÉM é negócio cara!ou você acha que os Beatles teriam sido os Beatles sem a ajuda de Brian Epstein?(seu produtor)ou Marley teria o impacto que teve no cenario musical não fosse o brilhante trabalho de marketing de Chris Blackwell, apresentando os Wailers com uma áurea "rock"(tô cansado de dizer isso...)com aquela capa de "Catch a fire", e principalmente, na maravilha que era a capa de " Burnin' " na Inglaterrra,com as letras no encarte pra que se pudesse ver a sua consistência política e poética? Não fosse por isso,eles seriam reduzidos a mais um produto exótico terceiro-mundista, diluído no rótulo burro chamado world-music, que é quando por preguiça de pensar, os gringos colocam tudo na mesma sacola.

Pra terminar,m eu amigo Eduardo Patrício, ex-baterista da melhor banda que já apareceu por aqui(mais uma vez em MINHA opinião) a super anti-clichê CATARINA MINA , me lembrou na postagem anterior a essa em seu comentário, de uma construção de Zeca Baleiro(inteligentíssimo, sempre), em que numa determinada canção cita: /Mais bobo que banda de rock/. Lembro que quando ouvi pela primeira vez esse verso cantado por Zeca, meu coraçãozinho rockn'roll tremeu... Mas quer saber, ele tá certo. Se for olhar direito pro universo Pop/Rock, Ele tá falando daquela banda que por distorcer o som e falar palavrão, acha que é o inimigo numero 1 do sistema, ou daquela outra que por causa da franjinha e da maquigem, se acham a última jujuba do saco com aquele ar de tédio eterno, ou aquela cara de "foda-se o sistema!" e não diz nada em suas letras, não toca nada, ou NÃO FAZ NADA para mudá-lo. O Baleiro tá certo. Ele não deve ter ouvido o Ok Computer do Radiohead ainda, ou o primeiro dos Mutantes, ou não gosta.E daí se não gostar?quem foi que disse que todos tem que gostar da mesma coisa?

Em suma:

Não deixe de ir pro seu show porque a sua camisa preta tá suja,vá com a ROSA se quizer(vai perder uma noite divertida por causa da p* de uma camisa?).

Não deixe de ir curtir a sua radiola naquele bar, porque sua camisa de cores jamaicanas ainda tá molhada, ou a sua saia rodada ainda não enxugou, ou a sua sandália baixa partiu a tira. Vá como queira, como possa.

Só tem o seu Versace no guarda-roupa agora e você quer ir pro congresso de filosofia? Vá. Lembre de Sartre que estava sempre impecável, clássico e deixou a sua marca na humanidade.

Ah, só restou aquela camisa do atacadão Itarec que você comprou? No problem. Vá. Se não, fique em casa, lendo aquele livro incrível, ouvindo aquele som que te transporta.Tá chovendo mesmo.

Pensar, tocar, criar, não precisa de amarras. Gente não é remédio pra ter rótulo. Estilo musical não é empresa pra ter farda. Coloque a cama na varanda quando todos praguejarem contra o frio(Raul!), só pra variar. Aliás, siga o conselho do mestre Raul, dê uma variada. Destribalize. Vá na rave daquele seu amigo, não vire um fundamentalista, um xiita. Vai lhe fazer muito bem. Vá de terno pra praia se quizer(não recomendaria,tá um calor infernal esses dias, mas, se você tá afim...)Quer ouvir ABBA depois do Pantera?(rsrsrs), no problem. Depois do Dream Theater , você quer ouvir aquela banda que toca mal pra caramba, mas que te capturou? vai fundo. Recomendo o Arctic Monkeys, ou o White Stripes. Gosta de disco music mais tá com medo do que o pessoal vai pensar?relaxa cara, você tá muito tenso...Fred mercury era gay, Bowie e Molko são Bi, o Flamengo é penta e Serguey é Pan!(rsrsrsr) tu não te garante não rapá?(rsrsrsrsr). Deixa de ser preconceituoso. Forget your troubles and dance! já dizia Marley. Relaxa... você tá levando esse negócio muito a sério.
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Saturday, March 10, 2007

FEIRA DE ATITUDES


Lembro de uma certa polêmica quando Humberto Gessinger em "Terra de gigantes" disse: /a juventude é uma banda/em uma propaganda de refrigerantes/. Houve duas reações. Uma mais niilista, considerava um verso pobre, de um compositor mediano que por falta de um talento maior, não sabia capturar aquele momento e traduzi-lo em uma canção relevante. Outra, via no verso, um feliz acerto poético do jovem compositor que soube, em canção, definir o sentimento de espanto de como a mídia tinha se apoderado da idéia de "juventude" e transformado-a em um produto altamente rentável, engarrafando-a e transformando-a em objeto de consumo. Nenhuma novidade até aí, desde que o marketing é marketing a idéia é vender.

Um pouco depois, um Cazuza iluminado, matava a idéia ingênua e romântica de que os ídolos do olimpo rockn' roll eram sempre e somente grandes inimigos do sistema, e, com a coragem e ousadia que lhe eram peculiar e que lhe permearam toda a carreira, destronou a todos (inclusive a sí mesmo) e auto-flagelou-se dizendo: /aquele garoto que ia mudar o mundo/frequenta agora as festas do grand-monde"/ e em apoteótico refrão que traduziu o sentimento da geração oitentista , clamava por uma /ideologia pra viver/.

E por falar em traduzir o sentimento de gerações, Renato Russo já também tinha esse sentimento de desesperança em relação a sua geração e asseverou com escancarada ironia /somos o futuro da nação/somos burgueses sem religião/geração Coca-cola". Renato e Cazuza foram embora, Humberto continua produzindo canções relevantes, só que bem mais distante da mídia.

Recapitulando:

O The Who, nos 60's com "my generation" já falava sobre o sentimento que regia a ebulição cultural da época, preferindo morrer a envelhecer (I hope I die/ before I get old/). No meio dos 60's Mick Jagger e os Stones não conseguiam se satisfazer com aquela década (I can’t get no/satisfaction). No final desta mesma, Lou Reed e o seu Velvet Underground com seu mimetismo musical, sujeira e criatividade imprimiram sua marca definitiva no universo Pop aliados ao vanguardista Andy Warhol e os artistas da Pop Art. Lou Reed e o Velvet Underground adentraram os 70’s convidando aquela geração para conhecer o lado selvagem da vida /baby/ take a walk on the wild side/. Aquele corinho de prostitutas cantando aquele tchururu, até hoje soa moderno e atemporal

Jim Morrison no começo da década de 70, já dizia: /They got the guns
But/we got the numbers/(eles tem as armas/mas nós somos maioria).

Depois, um alien chamado Ziggy Stardust baixou num humano e David Bowie sacudiu o mundo pop apresentando a androginia e a liberação sexual como marca daquele tempo. Em 74, com “Diamonds and dogs”, ele dizia (You've got your mother in a whirl/Shes not sure if youre a boy or a girl.../You want more and you want it fast/rebel, rebel/
Esses artistas renovaram a cansada estética hippie com seus novos horizontes estéticos.

Coube a Ian curtis no final desta década,em "She's lost control" captar aquele momento e dizer que "Ela" estava fora de controle(she's lost control/again)e aos Sex Pistols chutar o pau da barraca propondo como antídoto contra tudo aquilo, a anarquia total("anarchy in the U.K").

O Suede em "So young" inaugura os anos 90 convidando em sua magnífica canção, que "assustássemos os céus com nossos olhos de tigre, porque ainda somos jovens"(Because we're young/because we're gone/We'll scare the skies/with tiger's eyes), inaugurando o Britpop que seria a bola da vez daquela década em crise pela perda de Curt Cobain que fizera o grande abalo sísmico com seu “Nevermind” ao transformar o underground em mainstream. Ele sacou, frustrado, que a coisa toda era, no fundo, entertainment: / here we are now/ entertain us/.

Lá vem o projeto de crítico mal acabado de novo, enrolando pra dizer o que quer...
Enfim.

2004. Marcelo Camelo do Los Hermanos é vítima de violência do vocalista do Charlie Brown Jr. Razão: o vocalista não gostou de um comentário que o compositor fizera em um artigo de uma revista, dando sua opinião sobre o que considerava esse negócio de “vender atitude”, referindo-se ao comercial de uma marca de refrigerante em que o vocalista participara (veja e tire suas conclusões). Na época, entrei em alguns sites de ambas as bandas e me impressionou a elegia que alguns fãs do Charlie Brown fizeram ao que consideravam a “atitude rockn’roll” que o vocalista teve. Afinal, Chorão era macho e “não tinha sangue de barata” (conforme eu li). Nesse dia eu me perguntei: “ATITUDE ROCKN’ROLL”? QUE DIABOS FIZERAM COM A PALAVRA ATITUDE?ATITUDE AGORA VIROU SINÔNIMO DE VIOLÊNCIA TAMBÉM?

2006. Tô eu folheando uma revista de música, quando deparo com aquela preciosidade na minha frente. Falei: já vi esse filme antes! Vejo lá o CPM22 fazendo a “promoção atitude”(!!!!). PROMOÇÃO ATITUDE? Como assim? Atitude agora é promoção?

Depois disso me perguntei: Meu Deus será que ainda tem alguém que acredita nessa balela de “atitude”? Será que ainda é aceitável que vejamos ícones do Pop/Rock descartável e acéfalo com esse discurso em entrevistas de “atitude” em pleno século 21, com toda a informação disponível? Alíás, atitude o quê? O substantivo “atitude” faz sentido sozinho? Não sou professor de português, mas, ele não precisa de um adjetivo para lhe dar qualidade?

Agora vou falar:

Atitude deplorável - é quando um político corrupto que nos elegemos pra defender os interesses da nação, participa de lobbies e rouba descaradamente sob a proteção da lei, com total impunidade.

Atitude honrada - é um trabalhador encontrar um envelope cheio de dólares e devolver para a polícia. Depois de ser perguntado por que devolveu, simplesmente dizer: porque não era meu !

Atitude revolucionaria - é quando um negro sai dos guetos onde a estratificação social o condenou, e lutando contra todas as estatísticas e pressões sociais, vence pelo seu talento, trabalho, persistência . Seja qual for o campo que escolheu. Seja um Bob Marley, Um Biko, Um Martin Luther King ou um João-ninguém.

Atitude covarde e bárbara - é quando um ser humano brutalizado arrasta uma criança por vários bairros até que o mesmo morra, fazendo um país inteiro se estarrecer e comover, e, rezar para que ele (o garoto) não vire mais uma estatística:

E pra voltar para a música:

Atitude honesta - é quando Neil Young empunha sua guitarra e toca, mesmo que sem virtuosismo, o mesmo som direto e cru, sem nunca ter sucumbido a modismos, só porque o mercado pedia.

Atitude de coragem e ousadia - è quando os Beatles enchem o saco da própria mina de ouro que criaram e foi chamada de iê-iê-iê,(aliás, deliciosa e divertida) e, movidos por desejo de fazer arte, apresentam “Rubber Soul”, depois “Revolver” e culminam naquele que provavelmente foi o CD mais influente do mundo pop até hoje (Sargent Peppers)

Atitude visionária - é quando o mundo boquiaberto com a potência criativa do Mr creep, Thom York , espera que ele faça mais um “Ok, computer” e, ele quebra tudo, fazendo um CD quase eletrônico, nem um pouco preocupado em segurar o cetro de o “Pink Floyd dos anos 90” e disponibiliza o CD inteiro de graça na internet para desespero da gravadora e depois, lança o CD oficialmente e vende na Inglaterra, naquele ano, mais do que Madonna, Michael Jackson e todos os grandes ícones pop daquele momento, deixando a reflexão que o jeito de se entender o produto música, tinha mudado.

Atitude de desdém – é quando o Sr. Frank Black e seus Pixies, rejeitam o titulo de Melhor banda dos anos 90 por não ter vontade de mudar o shape que a estética rockn’roll exigia para aparecer na MTV (Frank era gordinho e nunca deu a mínima pra isso)

Atitude debochada – é quando o Sr. Brian Molko divide o palco com o Limp Bizkit, e, só pra sacanear o “modelo testosterona de rockn’roll” faz um show vestido de vestidinho vermelho e toca mais e melhor do que o Sr. Fred Durst jamais tocou.

Atitude admirável - é quando Bob Marley sai lá do interior da Jamaica e, com inabalável fé e seriedade, incendeia uma Europa branca e etnocêntrica com talento e inspiração.

Atitude rebelde - é quando seu Lobão peita toda a indústria fonográfica brasileira e lança seu CD em bancas de jornal por um preço justo e denuncia o jabá e os ganhos estratosféricos das gravadoras que deixam para o artista um mínimo por seu trabalho intelectual.Por isso, foi banido das rádios e apesar disso, vendeu mais de 100 mil Cds, perambulando de rádio independente em rádio independente, de faculdade em faculdade mostrando seu produto artístico. O mesmo exemplo deu Os Racionais Mcs, que, totalmente alheios à mídia, são unanimidade de público e critica e vendem seus próprios Cds pelo Brasil em seus shows. Só o Impactante e essencial “Sobrevivendo no inferno” ultrapassou a marca de 1 milhão de unidades! Vou parar por aqui para não ficar mais extenso do que já ta e não lhe cansar mais ainda. Porém, tenho certeza que você também tem alguma atitude-alguma-coisa pra citar.

Sem a ingenuidade de que a arte não precisa de suporte financeiro pra acontecer. Nada contra um artista ter um patrocinador que acredita em seu produto artístico, pra lhe dar condições de trabalhar direito, com estrutura decente, com bom som, boa luz, pra levar um bom espetáculo para seu público. Tenho banda e adoraria poder levar um show com toda estrutura que desejamos, patrocinados pelo armazém do seu Zé, ou pelo Microsoft. Não é disto que eu estou falando. Só tô falando de banalizar as palavras para representar qualquer coisa, de não ser vitimado pela mídia, pela indústria do disco, da moda, e virar um alienado, repetindo conceitos que nem se sabem o que querem dizer. Daqui a pouco vai ter gente “espirrando com atitude”, “roncando com atitude”. “dormindo com atitude”. Francamente...

É isso.


Ah, a promoção já acabou.

A atitude-sei-lá-o-que também.

Alguém ai tem uma atitude pra vender?

Sunday, February 11, 2007

O novidadeirismo



A passagem para o segundo milênio disparou uma série de revivals mundo afora. É almanaque dos 60'S,70's, 80's e já vi uma entrevista dizendo que o almanaque dos 90's está a caminho. Nada contra(até por fazer parte dessa geração que como eu amava os Smiths e o U2, amava a Legião Urbana e o Cazuza).No meio dessa febre,algumas perguntas não querem calar:
Esse século carece de coisas inspiradoras? a criatividade está em crise? diante de tanta informação, já não dá mais pra filtrar o que é relevante do que não é,mergulhados que estamos no turbilhão das informações que voam à velocidade da luz? ou estamos fadados a lei de Lavoisier?como diz o grande filósofo Fatboy Slim, diz ai!

Outra indagação mais simples: Será que de fato, nunca mais houve um momento de ineditismo no mundo Pop/Rock desde os Smiths?O engraçado, (em minha leitura pessoal de leigo), é uma séria onda que se instalou em alguns segmentos da inteligentzia brasileira, que eu vou chamar aqui de "Novidadeirismo"(que me perdoem se já existe o termo e eu pareça querer se um neologista atrasado).

Vejo um interessante paradigma se instalando em alguns segmentos da imprensa musical mundial e confirmado em alguns bate-papos com meus amigos indies, sedentos de novas bandas.A fórmula é bem simples: O que é novo é bom,o que é velho é ruim.

Dois problemas filosóficos sérios se instalam aqui. Um: o que é "velho"? Dois:o que é "Novo"?
Vejamos alguns incensados exemplos de bandas "novas" que são as novas darlings da imprensa.
Pra surpresa de boa parte do mundo, vem da Escócia uma banda que sacudiu o mundo pop/Rock .O Franz Ferdinand despontou no mundo com seu visual esquisito(de escancarada alusão aos modelitos utilizados pelos exércitos de alguns ditadores que desejaríamos que nunca houvessem existido),a poderosa voz de Alex Kapranos, a precisão de seu baixista, mas, principalmente, ao diálogo bateria/guitarra de seus músicos. O punk/pós-punk revisado com os seus melhores ingredientes. A imprensa caiu de quatro, a Mtv tocou "take me out" à exaustão e o Franz conquistou o mundo.Maravilha. Só não gostei quando ouvi aquela conversa de "a última banda original do mundo". Meu coração Smithiano tremeu nas bases. Quem ouviu Gang of Four como eu na década de 80 sabe muito bem do que eu tô falando. Quem não ouviu, compre ou baixe(ainda tem volta?) "Entertainement" o clássico deles , bíblia de Kapranos e seus asseclas e entenda porquê a devoção à banda.Fiz um teste com um amigo que cata bandas novas a cada semana na NME.Coloquei pra ele ouvir o referido Cd. Pergunta dele: o Franz lançou Cd novo?quando? falei que aquela banda tinha quase 30 anos(entertainment é de 1979!!), meu amigo não acreditou. E só pra citar algumas bandas que dvem até as cuecas pro Gang of Four: Red Hot,Kaiser Chiefs,Killers, The Bravery,entre outras pra esse texto não ficar mais longo ainda.

Outra cultuada banda, (essa de New York) injetou sangue novo no Pop/Rock. Os Strokes tiraram todos os excessos guitarrísticos e deixaram em seu instrumental só o essencial: riffs certeiros,baixo seco e dançante(isso não lembra uma outra certa banda dos 80's, Mr. Ian Curtis?),letras bem sacadas,belas melodias. E tome "a mais original banda do mundo". Que ouviu Tom Verlaine e o seu Television na década de 80,sabe que a coisa não é bem assim. Ouça o Cd "Marquee Moon" e veja se não muda de idéia.

Outra banda cultuadíssima, trouxe à tona a velha fórmula Rock'n roll infálivel: Hormônio+guitarras+energia+honestidade= sucesso. Os Arctic Monkeys com atitude(que medo dessa palavra!)dentro e fora dos palcos(já eram estrelas antes de chegar nas majors, distribuindo cds de graça em seus shows) sacudiram o marasmo das rádios Inglesas "cabeças" com sua simplicidade,misturando Clash(e quem não foi influenciado por eles de 80 pra cá?), Sex Pistols,Ramones e de novo o Gang of Four( a onipresente).

E o que dizer da relação Oasis/Beatles? Inrterpol e She wants Revenge/Joy Division.

O super-incensado Brian Molko do Placebo, até hoje bebe na fonte do do Sr Marc Bolan do T.Rex, (até aquela voz fanhosa) e, principalmente do Sr. David Bowie, chegando até a gravar uma maravilhosa canção com ele(without you).O mesmo Bowie que quando muitos pensavam que não era mais capaz de produzir algo digno de sua grandiosidade, trouxe "Reality" à tona, calando a boca dos sem-memória.E por aí vai... E antes que vc diga: O que é que esse jurássico tem contra as minhas bandas/compositores prediletos? a resposta é : nada. Ao contrário. Adoro todas(particularmente de mister Brian Molko que é um letrista como a muito eu não via) tenho Cds, Dvs,entrevistas, artigos, revistas, etc. O que quero aqui é deixar a reflexão de que envelhecer não é perder a sensibilidade, o talento a capacidade de fazer boas canções que te causem aquela sensação de estar sendo traduzido.A sensibilidade não é um atributo só de hoje e não nasceu na virada do século.

Se vc teve paciência pra chegar até aqui, deve estar se perguntando: onde é que esse projeto de crítico autodidata quer chegar? A resposta é dada por dois Gênios e dois de seus lançamentos: Bob Dylan e Stephen Morrissey.

Dylan, que é gênio desde os 60 e viu todas as modas passaram por ele, resistiu ao teste do tempo.Ao ouvi-lo em "Modern times" (seu trabalho de 2006)com a mesma profundidade, lirismo, inteligência,consciência intacta(depois de alguns tropeços, é claro. Quem não os fez?) é uma festa pra alma.

Mais confortador ainda pra mim(pela representatividade dos Smiths para aminha geração) é ouvir Morrissey com a mesma sensibilidade, cinismo,inteligência, a acidez de sua "big mouth",que eram a marca registrada de suas canções nos Smiths. Não são muitos caras que confessariam o que esse senhor confessou ou teve a coragem de críticar em "you are the quarry"(seu trabalho de 2004).Se vc tiver curiosidade ouça "America is not the world" onde fala de uma américa "where the president is never black, female ou gay"ou "I have forgiven Jesus" onde diz: "For all the desire, You placed in me when there's nothing I can do with this desire".Estes caras são um alento, a resistência contra a truculência e burrice que imperam na maioria das rádios perdidos entre o chóróró Emo, os forrós de 6a categoria(Jackson do Pandeiro e o velho Lula, lá de cima, devem estar injuriados ao ver o que estão fazendo com o santo nome do forró em vão...)um monte de marmanjos de calças arriada gritando Yô! e dizendo que é Rap(vão ouvir 2Pac,Dr Dre,Public Enemy,Snoop Dogg,Afrika Bambatta pra aprender como é o traçado!)e os eternos axés com seus problemas com o solo("tira opé do chããããããão!argh!!!alguém ainda aguenta?)e sua coreografia de mãozinhas pra cima. Tenham dó!Logo a Bahia que pariu Raul,Camisa de Vênus, Caetano, Dorival Caymmy.Aliás , o próprio Caetano calou a minha boca com seu impressionante vigor em Cê seu mais novo trabalho.

Se todas as outras bandas aqui citadas vão resistir ao teste do tempo, eu não sei. Mas te asseguro que enquanto houver música e alguém que goste de um bom texto, Morrissey , Bowie, Dylan e Beatles vão ser citados, ou tocados em algum violão de algum menino(a) aprendendo a tocar. Aliás , vc consegue imaginar a música atual sem a influência deles? eu não.

Portanto, antes de criticar aquele velho cantor e compositor em detrimento do novo hype da estação, saiba que se não fosse por eles, muitas das coisas que vc ouve hoje e considera "muderna",nem existiriam. Parece que vivemos condenados à infantil fantasia de ser eternamente jovem, e ao envelhecermos, perderemos a competência de tudo.
E pra terminar, citando outro gênio emulado até a alma, fico com a profecia de Bob Marley: Time will tell. O tempo dirá.

Já disse Marley.