Thursday, August 11, 2011

BANDAS NO MARANHÃO: POR QUE O AVIÃO AINDA NÃO LEVANTOU VÔO?



O ano que passou foi esperançoso para o cenário cultural maranhense. Tivemos a discreta sensação de que o limbo cultural que nos empurraram foi sutilmente invadido por parte da cavalaria, salvando nossas vidas com shows memoráveis, especialmente para os amantes da música que não toca no mundinho alienado da maior parte da mídia massificada (me recuso a dizer “musica alternativa”, virou grife).

Tô falando daquelas bandas/artistas que insistem em se preocupar com bons textos, arranjos criativos, fugindo dos refrões fáceis, das onomatopéias, das letras ginecológicas. Vou destacar três shows: Autoramas, Mombojó e Ludov.

Só acreditei quando vi. O que parecia ser matéria exclusiva da pasta de santo Expedito (o santo das causas impossíveis), passou para o departamento dos milagres realizados, e, eles aterrisaram aqui na ilha de lost.

Também vimos a rediviva musa absoluta do underground, daquela que, em minha modestíssima opinião, é a melhor compositora brasileira de nossa música contemporânea: a ex-junkie, ex-porra-louca e agora garota-saúde: madame Angela Rôrô (jogue seus preconceitos fora, quebre esse seu Cd do mais novo hype da semana e vá ouvir sua discografia. Permita-se. Angela é tudo aquilo que você quiser).

Também vimos a promissora banda Tan Lan no Chez. A boa banda do sul, representante do prolífico celeiro que já deu para o Brasil um dos seus mais famosos manifestos, que sacudiu a cena brasileira nos 80’s, capitaneada por Edu K e uma das mais influentes bandas do Brasil, o Defalla que foi precursor de muita coisa antes que alguém pensasse,dialogando com as novas linguagens e experimentos da gringa com identidade nacional, além de fazer misturas geniais antes de fazer mistura virar franquia de sucesso a um tempo atrás e, hoje já parece ser fórmula exausta. O Defalla chutou a porta do barraco muito bem acompanhado pelo Graforréia Xilarmônica, Wander Wildner, Frank Jorge e outros bardos, num momento em que se precisava, oxigenando a música brasileira com irreverência e sonoridades novas. Descubra-os.


Correndo o risco de parecer puxa-saco, o Chez Moi foi responsável por dois, dos três memoráveis shows citados: o Ludov, banda impar no Brasil, que há tempos vem derrubando o muro da burrice que separa mainstrean da cena independente, mostrando que essa última pode ser também radiofônica e, também vimos o Autoramas, lenda viva da música independente do Brasil.

Ver a realização desses milagres me acendeu a esperança de ver São Luís ser incluída na rota desses grandes artistas que efervescem a música brasileira, especialmente o pop e o rock nacional contemporâneo. E aí acabei sonhando em ver por aqui: Cidadão instigado, Black Drawing Chalks, Los Porongas, Vanguart, Nevilton, Pata de elefante, Macaco Bong, Superguidis, Maquinado, Pato Fu, Cérebro Eletrônico. Jumbo Eletro, Retrofoguetes, entre muitos outros.

Também me fez lembrar da constatação que eu já tinha feito antes: a música não tem mais fronteiras. Veja os exemplos acima: Black Drawing Chalks é de Goiânia, o Vanguart é de Cuiabá (!!) Fernando Catatau e seu Cidadão Instigado são de Fortaleza (!!!) Superguidis é uma banda gaúcha e Los Porongas são do Acre (!!!!!!!!!). Agora não é só a produção cultural do eixo Rio-São Paulo que é reconhecida . O grande agente responsável por essa mudança é a grande rede mundial.

A preciosa ajuda da internet, deixou a organização geográfica da música brasileira à disposição do usuário da rede, à distância de um clique. De outra forma, como seria possível, há tempos atrás, ter acesso ao Los Porongas ? À propósito,em minha modestíssima opinião, entre as melhores bandas do pais, com arranjos e letras absolutamente acima da média.


Diante de tudo isso, a angustiante pergunta que não quer calar, é essa aí que você já concluiu:

POR QUE O MARANHÃO, POR QUE SÃO LUÍS AINDA NÃO MANDOU UMA BANDA DE EXPRESSÃO ROCK OU POP PARA O BRASIL?

OBS: Se eu to mal-informado e você conhece uma banda daqui, em algum estilo que eu não tenha ouvido, perdoe esse pretenso colunista bem-intencionado e pare de ler o artigo aqui. Depois, informe quem se deu ao trabalho de escrevê-lo e alguns que talvez se dêem ao trabalho de o ler.Se não conhece, continue...


Tá , eu concordo, o Excelente Zeca Baleiro é pop até a última fibra da camisa do MAC. Também sei que Luciana Simões e Alê Muniz fazem um trabalho de primeira, fazendo a musica do Maranhão flertar com o mundo, e seu Riba foi elogiadíssimo em muitas grandes publicações,mas, além deles, que outros artistas contemporâneos? E principalmente, o foco desse texto: qual BANDA?


Antigamente existia a justificativa que tinha que se deslocar para o sul-sudeste para dar certo. E agora? Se Fortaleza pode mandar Fernando Catatau e sua trupe, se Recife já mandou o manguebeat para o mundo, a Bahia já mandou Raul e recentemente a competente Pitty,que quebrou o clichê de que baiano tem que fazer axé music(aquele estilo cheio de onomatopéias, Iôiîôiô, Iáiáiá, letras de duplo sentido e aquelas rimas sensacionais...). Se até o Acre já mandou o Los Porongas (ouça essa banda),por que o rock e o pop que se produz aqui não se projeta?

Falta de qualidade? Falta de bandas? Falta de profissionalismo das que existem? Faltas de variedade de estilos ? Falta de coragem? De estratégias inteligentes?Falta de espaço que contemplem os estilos ditos alternativos?De apoio de empresários que dêem suporte? Iniciativa da política cultural?Falta de que?


Vamos pensar:

Falta de qualidade não é. Não tenho propriedade para falar do que veio antes de mim, ou do que não vivi. Comecei a vivenciar shows de bandas aqui em São Luis, quando voltei de Brasília, a partir de shows da competentíssima Alcmena. Parei, depois voltei com a empolgante Mystical Roots na época com a talentosa Luciana Simões e seus parceiros, que durantes seus shows já inseriam musicas autorais no repertório. Parei de novo e só fui me empolgar outra vez com a energia da General Purpose,pilotada pela pegada forte e sensível de Erico Monk, que hoje me dá o prazer de tê-lo como músico na mesma banda.A General Purpose,também recheava seus shows com canções autorais.Também ouvia falar da Daphne, mas nunca fui a nenhum show para poder falar algo.

Mais tarde, fui assistir a um show da Catarina Mina e virei fã. Aliás, desconheço em São Luis alguma outra banda anterior, que tenha feito com que as pessoas se deslocassem para ouvir essencialmente canções autorais de uma banda local. Nesse sentido, a Catarina é uma divisora de águas, apesar da modéstia de seus ex-integrantes.

De lá pra cá, tenho visto grandes artistas pop e rock aparecerem, grandes intérpretes, grandes músicos, excelentes homens e mulheres de palco, grandes vocalistas e em número menor, compositores.

Não vou falar de bandas que só tocam cover, sem desmerecer muitos excelentes músicos que há por aqui, e fazem seus trabalhos com muita competência e objetivo claro de entreter , o que não é nenhum demérito, muito pelo contrário. Só estou focando no trabalho autoral. Também não vou falar daquilo que por aqui se convencionou chamar de MPM, até porque , esses já tem quem os defenda (embora não consiga entender o rótulo, assim como não entendo a tal da MPB...). Entendo que a Pagina 57 é tão “MPB” quanto aquele artista que só gravou canções do nosso folclore popular. A explicação é muito simples e obedece a lógica empregada por um gênio injustiçado de nossa música: Lobão.

Vejamos: A página é um grupo teatral? Não. A página faz música.
A página faz música clássica? Erudita? Não. A página faz música popular (Ou alguém discorda que o rock não seja popular?)
É brasileira? Alguém duvida disso?Apesar da saia, desconheço que Ramires seja escocês!

Imagino que essa explicação/justificativa deva causar alguma discórdia.

Conclusão óbvia: Então a página 57 faz MPB ou, por conseguinte,MPM. Tô certo ou to errado?

Bandas e artistas já lançaram CDs, EPs e singles autorais, a exemplo de Pagina 57, Michael Boys Band, The Mads, Alexander (ex-Daphne), MR Simple, Nimbus (essa, por exemplo, lançou um Cd e DVD com um padrão acima da média, absolutamente elogiável ),Djalma Lúcio lançou um EP que reconfirma o seu talento, e até a banda que eu faço parte, a Radioteca já lançou vários singles, sem contar os artistas de inegável talento que também lançam singles, a exemplo de André Lucap. Esses são somente alguns exemplos que me vem à mente. Há muitas outras. Aproveite e deixe seu exemplo.

Já tivemos bandas em programas de massa (The Mads, Michael Boys Band e outras), Bandas reconhecidas no exterior (Nimbus) bandas com videoclipes em programas de ponta da MTV e bandas com bom número de acesso aos seus vídeos. Então, acho que temos qualidade para oferecer.Concordam?

Então vamos para outros pontos:

Falta de bandas: não é. No Maranhão, não e só babaçu que abunda (foi de propósito sim..). Por todos os cantos da ilha, novas bandas aparecem todos os dias, de todas as tribos.

Em uma nem tão distante iniciativa de organizar uma amostragem de bandas locais, foi constatado em pesquisa que há mais de 100 bandas do segmento rock ou pop em São Luís, sem contar as inúmeras outras que não são conhecidas. Isso seria mais do que suficiente para justificar até um “movimento”. Seja lá o que isso for. Seattle não tinha nem metade desses números e fizeram o grunge.

Falta de profissionalismo das que existem? Depende de até que ponto se refira a profissionalismo. Longe se vai o tempo em que as bandas de S. Luís , romanticamente ensaiavam somente em garagens improvisadas como nos velhos tempos. Hoje os músicos querem condições para poder ensaiar. A grande maioria das bandas hoje, aluga estúdios para seus ensaios. Conseguir horário para ensaiar nos mais estruturados estúdios de S. Luís, ta parecendo vestibular da USP!


Faltas de diversidade de estilos?Não creio. Hoje o cardápio de opções de estilos que temos por aqui é bastante diversificado. Do hip hop ao reggae,do hard rock ao indie, da MPB contemporânea à mais tradicional,do trash ao punk . Há opções para todos os gostos. Umas tribos maiores que outras, umas mais organizadas que outras, umas com points de encontro e outras sem nenhuma referência.

Há bandas de hip hop autoral reconhecidas e com credibilidade artística. Há bandas punks em S. Luís que sobrevivem há muito tempo, outras acabaram e ficou só o estilo. Desconheço trabalho autoral de bandas punk por aqui. Há grandes bandas de trash e death metal com grandes músicos com muita qualidade técnica e com trabalho autoral reconhecido.

Uma das mais organizadas tribos por aqui são as bandas de hard rock, que contam com um público fiel e amplo, com point de encontro e shows normalmente lotados e bem estruturados, com bons músicos e bons equipamentos. Desconheço trabalho autoral.

Há bandas consideradas indie (como a banda que eu toco) com um bom público e também fiel. Há trabalho autoral gravado e tocado em rádios e mídias digitais.

Há bandas de reggae de excelente qualidade (cito por exemplo, a Legenda, indiscutívelmente, uma grande banda ,com som autoral).

Há artistas solo de grande qualidade como André Lucap, Djalma Lúcio e Alexander (ex-Daphne) todos com trabalho autoral. Esse último com um bom álbum lançado.

É importante lembrar o conceito de música autoral que eu uso aqui: que tenham gravado, registrado suas próprias composições em single, EP, álbum ou em sites com música digital, como o myspace.

Aproveito para me desculpar se alguma injustiça foi feita aqui. O fato de eu não conhecer, não significa que o trabalho autoral da banda não exista. Convido esses músicos e artistas para aproveitarem e usarem esse espaço aqui para informar às pessoas sobre suas produções.
Então não venham me dizer que é falta de opções!

Falta de trabalho?Estrelismo? Não sei. Talvez para algumas bandas. Quando vejo bandas consagradas lá fora como CSS,Bonde do Rolê, O Tetine ou quando vemos o exemplo de sucesso nacional (com exceção dos engodos produzido pelas gravadoras e mídias (boys and girls bands nacionais e internacionais, a última moda do verão,e coisas afins), todos os que conquistaram seu lugar ao sol, tem uma história de luta, de correr atrás do que quer. Tomemos por exemplo a maior expressão pop(ou seja lá em que rótulo o queiram encaixar) do Maranhão,o talentíssimo Zeca Baleiro. Zeca conta a quem quer ouvir em suas entrevistas como teve que “ralar”, vencer todo tipo de dificuldades para chegar aonde chegou hoje. A lição que fica é : tem que ralar para chegar lá.Isso não cai do céu, custa esforço, às vezes muita renúncia,e, definitivamente vai custar que se saia da zona de conforto.Isso pode ser um processo doloroso,lento e gradual.Que se pense então se de fato tem se trabalhado, corrido atrás o suficiente.

E também tem uma coisa de estrelismo...
Já vi tanta banda deslumbrada, dar chilique porque esse mês os shows dela estão lotados ou por causa do suposto grande talento que supõem ter. Incabível para uma banda ou artista iniciante. Sobre esse tema não vou me prolongar porque é ponto pacífico que é ridículo.

É claro que não quero ser super-simplista. Somado a isso há muitos outros fatores como : o momento certo, muito trabalho, a sorte, talento, network, saber vender sua própria imagem, entre muitos outros pontos.Então, proponho a reflexão sobre as suposições aqui feitas.

"Excesso de romantismo" uma certa "ingenuidade","imaturidade artistica", apego ao ideário romântico do rockn'roll, "alienação"? e como resultado de tudo isso: Amadorismo? Essa é uma coisa pra se pensar...

É fato que quando se começa a tocar, vale qualquer coisa. Mas, não se pode culpar um baterista que investiu num pedal bom , em bons pratos para sua bateria ,pele, bumbo,caixa, que não a socialize com outros, que não empreste seus pratos, caixas e baquetas para ninguém que ele não conheça, ou a um músico que investiu 3,4,5, 10 mil reais(!!!) no instrumento dele,que o mesmo não queira tocar numa caixa da meteoro só pra provar que tem “atitude rockn’roll ”,ou em equipamentos caindo aos pedaços só pra provar que não tem “frescura” para tocar, ou ainda, que não aceite dividir o seu instrumento com meninos que tão mais preocupados em exibir a vasta cabeleira , fazer hair show, posar de rocker, espancando mais o instrumento, do que tocando de fato! E tome show em qualquer lugar! Sem nenhuma estrutura, sem som decente, tudo meio amador. Músicos não conseguem se ouvir, o público não consegue ouvir a banda. Mas tudo bem,“porque somos rockn’roll e tocamos de qualquer jeito,yeah!”. Já era. Acabou a puberdade.


Uso de outras estratégias para divulgação?dialogar melhor com a tecnologia? Sim e não. Embora haja bandas e artistas que ainda estejam presas(os)SOMENTE na idéia de fazer um CD e sair vendendo, como se essa ainda fosse a única estratégia para vender e promover seu produto, já há muitas bandas/artistas por aqui que já não vêem o Cd, ou a venda desse como única forma de promoção. Há bandas e artistas que já dialogam muito bem com um novo modelo e promovem seus shows em suas páginas on line, nas redes sociais, disponibilizam seus trabalhos para download gratuitamente. Atrevo-me a dizer que nesse sentido, a Radioteca se antecipou, pois desde seu 1º single já faz isso e também distribui os mesmos gratuitamente em seus shows.

Há também quem poderia ajudar, pessoas que detém poder junto aos meios de comunicação, mas ainda estão cristalizados naqueles modelos tradicionais de consumo e promoção de música,e, por não entenderem bem esse outro modelo(que já nem é novo desde os anos 60...) dificultam as coisas ou rejeitam.E, graças a Deus, ainda há aqueles que apóiam,que acreditam e sabem que temos trabalho de qualidade radiofônica por aqui com condições de figurar em qualquer set list de uma boa rádio do brasil.


Apoio de empresários que dêem suporte? É aqui que a porca começa a torcer o rabo...
Vou falar mais uma vez baseado na minha experiência. Não sou especialista, não sou jornalista,sou um mero vocalista e aprendiz de compositor, porém, pensador com o direito de ser crítico. Apesar de pedagogo/professor não usei nenhuma metodologia científica para ter essas impressões. São somente conclusões baseadas em minha vivência. É bem verdade que baseado nas conversas com meus amigos músicos, vejo que a minha fala não é isolada, as angústias costumam ser as mesmas, com poucas novidades.

Se não posso culpar um empresário de querer ter retorno com o seu investimento, ele também não pode esperar que bandas e artistas vejam a música SOMENTE como B.G para vender cerveja, aperitivos, comida e drinks. Até o entretenimento é coisa séria. Estão aí os americanos para provar isso.

A verdade é que há empresários e empresários. Por exemplo, há alguns que acham que esse papo de sustentabilidade é uma lorota, mesmo que o resto do mundo inteiro entenda que esse é um caminho que não tem mais volta. Há outros que acham essa conversa de responsabilidade social seja mero papo de intelectual, mesmo que seja consenso que empresa sem responsabilidade social estará fora do mercado daqui a algum tempo (isso se já não está). Da mesma forma há empresários que não querem correr riscos, preferem apostar nas mesmas fórmulas desgastadas de entretenimento, de cultura (aposto que você sabe do que eu tô falando). Compreendo que alguém goste de determinados estilos de música, só não compreendo que só haja determinados tipos de estilo, não haja opção para quem está fora daquele circuito. Não acredito que as pessoas possam ser assim tão uniformes. Vendo o Chez Moi lotado no show do Ludov, EM UM DOMINGO A NOITE ou vendo o circo da cidade lotado, cantando em uníssono com o Mombojó, ou ainda esse ano, vendo o show do velho Lobo com um bom público,e, mais recentemente vendo o show do Blues Etílicos, quase lotado,numa casa muito preparada e muita bonita que em nada deixa a dever para grandes casas no sul e sudeste maravilha, fico com a certeza que pode haver variação no cardápio cultural. Há publico para isso. Arte, cultura, entretenimento transcendem o status de mero B.G. Faltam empresários ousados, inteligentes, antenados com o novo,também que queiram correr riscos, apostar em artistas novos, investir no novo . De outro modo, a única forma de cultura no mundo seria visitar museus! ou pelo menos arriscar também nos de credibilidade artístisca reconhecida,porém sem grande exposição nas mídias tradicionais.

Vamos combinar que há coisas que só ainda existem aqui na nossa linda e querida ilha de lost ( e tome gravação de DVD!daquele mesmo estilo de sempre...). Seria necessário que eles (os empresários) conhecessem esses novos artistas daqui de S.Luís, fora da MPM,que já conquistou o seu espaço, que soubessem que há produção cultural fora desse circuito e que ela não se limita a artistas regionais ou brincadeiras folclóricas , com o devido e merecido respeito que os mesmos merecem. Há música autoral de qualidade em todos os seguimentos para todos os públicos.

Alguém talvez possa dizer que falte competência e disposição dos artistas e músicos para fazerem esses empresários conhecerem as suas produções. Talvez. Mais uma vez, eu só posso falar baseado nas minhas próprias experiências, e, nela, 9 entre 10 vezes que levei um projeto de single, EP,álbum para alguma empresa, a justificativa que recebi para levar um não foi: “Ninguém conhece esse tipo de som.Isso não vai dar visibilidade para a empresa” ou “Queremos artistas que valorizem as suas raízes”.Tô pra colocar uma raiz dentro do projeto pra ver se dar certo!Honestamente, tô de saco cheio desse discurso! É limitado, pobre. Por outro lado, também conheço amigos artistas e bandas que tiveram mais sorte. Fica aí a reflexão sobre o que fazer para essa interface acontecer,especialmente daqueles que possam ter sido bem-sucedidos..

Há muitos empresários também que não tem o mínimo de respeito por bandas de rock ou pop que tratam a banda como se estivessem fazendo um favor de deixá-los tocar em seus bares, espaços. A prova cabal disso são algumas propostas que artistas e bandas às vezes recebem. Propostas que no começo, até são de divisão por igual. Mas, basta que a coisa comece a dar certo que logo aparecem propostas indecentes que só favorecem um lado (o deles, claro). A Radioteca por exemplo, já recebeu proposta de tocar com 70% da bilheteria para o dono de um certo local, mais o consumo do bar, sendo que o som deveria ser contratado pela banda!É justa uma proposta dessa? E eu não estou falando do Credicard Hall...

Porém, nem tudo é ruim. Há exceções. É preciso que se diga que também há poucos, mas, bons parceiros, empresários inteligentes que tratam as bandas e artistas como devem ser tratados, que trabalham em parceria,que possuem visão, e proporcionam boas condições de trabalho para banda e artistas. E, quer saber? Sai todo mundo ganhando: artista, público, empresário. Todo mundo quer tocar na casa, todo mundo quer ir na casa. É bom pra todo mundo.

Falta de cultura autoral? Sim. É fato. O público de São Luís não tem uma cultura de receptividade à música autoral. Pelo menos no segmento rock/pop. Me corrijam se eu estiver errado, por favor.Não sou dono da verdade.

Se você vai em Sampa,no Rio, em Goiânia,no Acre(!!!!!)há um clamor que você mostre o que faz. Por aqui, a coisa definitivamente não é assim. Culpa das bandas que não insistiram o suficiente? Falta de coragem? Talvez. Há várias desistências no front por falta de empatia do público. A conta apresentada pelos empresários é muito simples: se você só toca sua música autoral, mesmo que de qualidade,o público acaba evitando, se não há público o empresário não vende, se não há venda, não há como pagar a banda (pelo menos, esse é o argumento apresentado por eles, esses estilos de empresários). Normalmente o que acontece são três coisas: ou a banda se amedronta, se cansa de nadar contra a maré e passa a tocar só cover, ou só toca “o que a galera gosta” ou utiliza de estratégias para se fazer ouvir, como por exemplo, misturar suas músicas em meio a suas influências, contidas em seu repertório.Há quem critique. Há quem ache uma estratégia inteligente.

Outro fenômeno que acontece é que alguns se desestimulam por não haver receptividade com seu trabalho autoral e não se contentem em tocar só cover e desistem.

Algumas vezes, já ouvi o seguinte argumento:

- Mas a Catarina Mina deu certo aqui, nas proporções que podiam ter! Então é falta de bolas de vocês!

Eu não sou um estudioso do assunto, não sou cientista social, não sei explicar os fatores que colaboraram para isso além do notório talento dos Catarinos. Quem souber que apresente. Aproveito o espaço para quem sabe,convidar alguns membros do Catarina também a somar à essa discussão,ensinando, orientando, pensando junto por aqui.

Iniciativa da política cultural?Talvez. Sim e não. Se você compreende política cultural como a possibilidade de viabilizar projetos a artistas para se candidatarem a um incentivo/realização de um determinado produto cultural, seja Cd, exposição, publicação,eu imagino que o espaço esteja aberto a todos de forma democrática (corrijam-me aqui se eu estiver errado).Agora, se você entende como ações organizadas para promoção,divulgação,amostragem de determinadas produções artísticas, a resposta é um sonoro NÃO. Diz aí pra gente, qual foi o último projeto/festival que você foi ou ouviu falar, contemplando o que se produz de rock ou pop no MA? Ouço falar de festivais de música maranhense, mas dificilmente ouço falar de algum projeto fora do segmento MPM. Não vejo nenhuma iniciativa de mostrar a produção Rock/Pop ou mesmo uma abertura em quebrar essas cercas que separam esses rótulos, como pelo menos, um festival onde houvesse todos os estilos contemplados, onde se pudesse ouvir do pop ao côco(olha o Boca de Lobo aí gente!). No fundo, acho que a melhor coisa é pensar em música, não em rótulo. Só tenho usado aqui os rótulos como referência, porque essa separação existe na prática.

Nesse momento, eu me sinto na necessidade de fazer um grifo pessoal: tenho a impressão que existe um certo preconceito como o rock e o pop por aqui. É uma coisa velada (às vezes nem tanto...) do tipo: Isso é coisa de adolescentes, sem cérebro. É como se não houvesse credibilidade artística neles.
Para esses, deixo a seguinte reflexão:

Existe algum mortal que goste de arte, de boas letras, de canções, que seja capaz de não reconhecer a genialidade de um Chico Buarque ou de um Tom Jobim? O problema é que: é como se bons textos fossem coisa restrita à MPB e seus cognatos. É como se arranjos criativos, originais, fossem propriedades exclusivas de Jazzistas, MPBistas ou a quem se atribua defensor da sua própria cultura ou traga elementos explícitos de regionalidade em sua obra. É como se qualidade de canção SÓ FOSSE possível com complexidade de harmonias, exaltações à brasilidade, concretismos estilísticos, pós-modernidade e sofisticação textual, contemplações sobre a natureza ou terra natal,condenação ao regime militar e à ausência de democracia ou odes à musa ideal, exaltações às raízes culturais. NÃO ESTOU CONDENANDO NADA DISSO, só estou dizendo que a coisa NÃO SE LIMITA SÓ A ISSO. É como se pop e rock fosse coisa pueril, fútil. A essas pessoas eu recomendo que ouçam Beatles (a partir da fase psicodélica, por favor), Beach Boys, Velvet Underground, Bob Dylan,Leonard Cohen, Placebo, Pulp, Smashing Pumpikins, Alanis Morrissete, Fiona Apple,Radiohead, Mutantes,Renato Russo, Cazuza, Arnaldo Antunes,Los Hermanos, entre muitos outros.Se essas pessoas perdessem seus preconceitos e se dessem ao trabalho de conhecer esses artistas ou se permitissem mais,encontrariam muitas das qualidades requeridas ou muito mais.


Falta de união entre as bandas?Intolerância entre elas?Clubes da Luluzinha, do Ozzyzinho?do Hardzinho, do Indiezinho?A resposta é sim.É parente legítimo do pessoal que se diz defensor da "legitima música brasileira" ou da "legítima musica maranhense". Sinto isso na pele, e, mesmo entre os meus amigos, percebo essa ridicularização do estilo de música que o outro gosta, essa discriminação (naturalmente, isso me inclui), ou então essa coisa patética de banda “que tá na mídia”, e banda”que “não ta na mídia”, banda que tá “no mainstream”(mainstream em S.Luis? Fala sério...) e banda que “não tá no mainstream”. É uma espécie de etnocentrismo, que limita, separa e não agrega nada para nenhuma das partes.Vejam os sertanejos, por exemplo, sempre chamando outros, fazendo seus shows juntos.Isso poderíamos aprender com eles. A estratégia é boa, inteligente e agrega valor a todas as partes. O público da minha banda conhece o teu público,o público da sua banda conhece o da minha.A troca seria interessante para todos se não houvesse hostilização entre as partes envolvidas, se houvesse mais tolerância, mentes mais abertas. Todos lucrariam com isso..


Mas não adianta ficar aqui só reclamando, apontando erros. E saídas? O que pode ser feito para mudar isso?

Saídas

Eu acho que há muitas alternativas, vou me deter em algumas delas, baseado no que tem se demonstrado ser efetivo no Brasil. Vejamos:

O Brasil revive um momento muito interessante de efervescência cultural com os festivais. Não me refiro a festivais competitivos, como já foram um dia, ou aos de grandes marcas. Refiro-me a festivais independentes, enquanto amostragem, panorama das produções em nível local e nacional. O Brasil explode de festivais já faz algum tempo, já quase chegando à exaustão.Confira alguns exemplos:


O já tradicional Abril Pro Rock, o JUNTATRIBO em Campinas,O BHRIF (BH),o HUMAITÁ PRA PEIXE (RJ),o SUPERDEMO (RJ), o BiG (Curitiba), O Goiânia Noise (GO)entre os mais sólidos.O último citado, é hoje o maior festival de música independente do país.Mas o que isso tem a ver com incentivo cultural? Você pode talvez estar pensando: o estado não tem nada a ver com isso! Ledo engano, meu amigo. Segundo informação da revista Rolling Stone, na edição nº04, de 2006, o Abril Pro Rock custou cerca de 720 mil, sendo que ¼ desse valor veio do apoio que o governo de Pernambuco fornece desde 1995(!!!). Outra Parcela saiu da Petrobras. A edição do Goiânia Noise de 2007 custou na época 300 mil, dos quais 1/3 saiu da lei de incentivo cultural.

O ACRE- FESTIVAL VARADOURO , também teve o apoio do poder público.O festival foi orçado em 140 mil reais, dos quais 100 mil foi bancado pelo estado, através da fundação Cultural Elias Mansur. Nesse momento vale fazer um comentário importante: todos esses festivais revelaram diversidade musical, mas só deram certo porque a platéia já está impregnada com cultura de música autoral, do tipo que conhece e canta as músicas junto com a banda. O Los Porongas, por exemplo, tinha somente um EP com 6 músicas quando se apresentou no Varadouro, com o público cantando suas músicas do começo ao fim.A banda já tem sua importância reconhecida dentro da música independente nacional em todos os veículos especializados . Então, fica provado que se houver vontade política de quem rege as políticas culturais, a coisa fica mais fácil de acontecer.

É importante frisar que estamos falando de uma coisa articulada, do somatório de forças como bandas, zines, blogs,lojas especializadas nesse público, etc... E eu estou falando de festivais independentes,, não confunda com festivais de marca(Hollywood Rock, o Rock in Rio, etc...) com interesses voltados somente para o maisntrean. E se você duvidar da importância desses festivais para a revelação de novos talentos, cito só alguns exemplos de músicos/artistas que foram projetados em festivais assim: Raimundos. Paulinho Moska,Mundo Livre S/A,Planet Hemp, Chico Science e Nação Zumbi. Tá justificado, né?
A coisa é tão organizada que já tem até representatividade (ABRAFIN- Associação Brasileira de Festivais Independentes).

Por aqui, boas iniciativas já foram feitas a exemplo do festival Pras bandas de K, Na Mira do Rock, e mais recentemente, o Balaiada, onde bandas locais puderam de alguma forma, mostrar suas produções.

Mais alternativas

Uma iniciativa que merece que se pense, chegou ao meu conhecimento em um artigo que li (me desculpem, realmente não lembro a fonte). Nesse artigo, explicando o sucesso da música baiana no resto do Brasil, mais especificamente no axé (...),o autor coloca que, uma das grandes razões do seu sucesso , tinha sido o fato que , visando valorizar o artista local, foi determinado que deveria haver uma porcentagem de música baiana a ser tocada nas rádios, não me recordo se 15% ou 20% das programações. Isso, maximizou o conhecimento da população às produções locais e,fortaleceu a relação de intimidade do público com seus artistas prediletos e suas produções e, na extensão dessa ação,para os estados vizinhos também, fazendo uma espécie de efeito cascata nas regiões vizinhas que por sua vez multiplicavam para as outras. O resultado disso, para o bem ou para o mal foi a superexposição das produções baiana até a exaustão(eu por exemplo tenho enxaquecas se ouvir qualquer um dizer: “tiiiiira o pé do chãããããããão!!!!)

Embora eu ache que essa medida pareça arbitrária, e, tenho medo e não acredito em nada que seja imposto, dado os descontos, penso que seria uma boa estratégia para se DISCUTIR.

Sobre recepção em rádios, por experiência própria, sou sempre bem recebido por gente inteligente e antenada em duas rádios aqui no MA quando vou apresentar trabalho novo, embora,algumas vezes, eu ainda veja a desconfiança em relação a divulgação de singles ao invés de Cd e em algumas situações eu tenha precisado insistir pra convencer que um single é também um produto artístico e não somente um Cd inteiro o é. Não acho que convenci,mas, ouço as músicas tocando. Isso é sinal de que as pessoas estão abertas a novas propostas, ou, se não novas, diferentes propostas, já que a divulgação de singles não é exatamente uma “coisa nova”, desde os Beatles!

Se mais rádios fossem parceiras, se fossem feitas mais interfaces para que os artistas tenham acesso a esse jeito mais tradicional de se divulgar música (sim, eles ainda tem o seu papel), seria bom pra todos. Ouço boas e louváveis iniciativas isoladas em programações específicas e outras que, também, inteligentemente diluem as produções que se fazem por aqui no meio de bandas e artistas nacionais. Isso também é bom porque não “guetiza” ou sectariza o que se produz aqui em relação ao que se produz no resto do país. Em minha opinião, ambas as iniciativas são necessárias e tem seu papel.


Também já fui sondado sobre fazer um programa de rádio/ TV falando e tocando somente as produções locais.Ainda não saiu do papel.


Uma outra boa iniciativa é investir nas mídias digitais, na criação de mais programas especializados. Mais iniciativas como o Live Rock Cam(criativa e ousada), poderiam fortalecer a divulgação das produções locais e descentralizar dos modelos tradicionais.

Me pergunto se o exemplo do Acre não é digno de ser seguido. Em conversa com os integrantes do Los Porongas em São Paulo, soube que uma das razões que também ajudaram nesse bom momento vivido na cultura de lá, é que um dos representantes eleitos é ferrenho defensor da cultura independente na cidade e é músico de banda. Isso deu representatividade às outras "tribos" quando se ia pensar e discutir investimento e política cultural. Acho que isso também poderia ser mais uma boa alternativa.

Não foi o objetivo desse artigo, pleitear uma carreira política. Mas, eu já teria um candidato para indicar.

Também entendo que todo movimento ou ação cultural, para que apareça, é necessário a força de um articulador ou vários. Basta olhar para a história do pop, do rock, do punk, que em algum momento você vai encontrar esse individuo ou indivíduos. Glen Matlock, Andy Warhol,Renato Russo, foram exemplos de indivíduos com esse poder agregador, essa capacidade de articular pessoas e colocá-las em grupo, organizá-las. Particularmente, acho que já temos esse representante, esse líder natural por aqui.

Além disso, toda a história de movimentos, em algum momento ou outro, precisa de locais, de um QG, de espaços como referência. Basta lembrar da importância do Circo Voador para o rock dos anos 80, do Whisky a Go-Go e do CBGB para o movimento punk/pós-punk, da Factory de Andy Warhol para o art-rock e suas muitas vanguardas de arte musical e visual. Também já acho que temos esse local. Se duvidar, temos mais de um.Se quisessem,se houvesse articulação e interesse, a coisa fluiria mais facilmente.


O fato é: ou se pensa em saídas para essa situação ou ela já está resolvida e teremos de concordar com aquela piadinha que diz que a melhor saída para a nossa cultura é o aeroporto Cunha Machado (atualmente, eu nem acho que vale a pena passar por lá.

Não foi a minha intenção ao escrever esse jornal (!!!), dar soluções definitivas e nem acho que as aqui sugeridas sejam soluções que possam dar certo isoladamente, elas só poderiam dar certo se articuladas, pensadas e somadas a outras idéias, iniciativas. O objetivo aqui foi pensar, discutir idéias para que alguma coisa possa ser feita a fim de promover a qualidade das produções de artistas e bandas de talento que permanecem sem o merecido reconhecimento que poderiam ter. Não tenho a pretensão de me sentir autoridade, sou somente mais um representante no meio de tantos outros por aqui, e, tampouco sou especialista ou letrado no assunto.


Se as informações aqui estiverem equivocadas, corrija-me, acrescente, some, informe-nos.Dê a sua contribuição. Critique. Pense. Articule. Mobilize-se.

Não dá mais para ficar parado.Já faz tempo. Já passou da hora.


A tribuna está aberta.



P.S: Depois do fechamento desse artigo, Já vi o show do Black Drawing Chalks e depois, o do Blues Etílicos numa das mais bonitas casas de show que já vi por aqui. Também vi Luciana Simões e Alê Muniz terem seus talentos reconhecidos em premiação nacional.

Em visita à Mad Rock(um dos ninhos dos aficcionados de rock da cidade) fiquei muito feliz em ver que já há várias bandas gravando em estúdio ou com material já gravado de vários estilos: do hard rock ao indie, do pop-rock ao trash, bandas e artistas que tem a MPB como referência. De todos esses estilos, me pareceu que aquele com o número de produções em maior prevalência, é a tribo do Death Metal.


Bandas como Cremador, Tanatron, Veltnez,Garibaldo e o Resto do Mundo,Diamante Gold, Jack Devil,Glock Adventure, Megazines,Fúria louca, ou já lançaram suas produções ou estão em estúdio gravando.


Peço, mais uma vez que bandas e artistas não citados, aproveitem essa discussão aqui proposta e usem esse espaço para falar de suas produções.


Parabéns a todos!


Este post permanecerá aqui por 15 dias, para que o máximo de pessoas possam discutier, opinar,dialogar.



Grande abraço

Nivandro
Vocalista da banda Radioteca