Thursday, April 26, 2007

NO STEREOTYPES !




Ontem fui a uma festa meio chata. O que salvou a noite foram três figuras muito exóticas e inteligentes que encontrei: Um regueiro, um rockeiro e um estudante de filosofia. Eles estavam vestidos bem à caratér para o que são.Ficamos conversando até às 5 da manhã.
Menti.

A festa em questão, não existiu, foi só pra você exercitar a sua imaginação. Mas, eu pergunto: Como é esse regueiro que você imaginou?posso tentar adivinhar?por acaso ele tinha um cabelo rasta e vestia roupas coloridas com a predominância do preto, amarelo e branco?

E o rockeiro?Por acaso ele tinha várias tatuagens no corpo, talvez usasse piercings, talvez um cabelo grande e , é claro, se vestia todo de preto com uma indefectível camisa da banda predileta dele.

E o estudante de filosofia?Talvez você tivesse imaginado que ele usasse uma tiara para prender o cabelo para trás,uma calça de algodão colorida, camisa hippye, barba por fazer ou hermânica, dessas que lembram o Camelo ou o Amarante e é claro, ele estaria de chinelos,preferencialmente uma havaiana(olha o comercial!) porque estudante de filosofia que se preze, não vai usar nenhuma sandália burguesa!E abaixo o sistema, o capitalismo, o imperialismo americano!Viva marx, Che!

É óbvio que o capitalismo talvez chega a grande praga inventada pela humanidade, Marx até hoje não foi entendido e certamente é um dos pilaraes da inteligência ocidental, Che foi um herói e os americanos se acham a polícia do mundo, representantes do próprio Deus na terra. Deus, aliás, é americano, e não brasileiro como pensam os terceiro-mundistas!Mas não quero falar disso. Quero falar de ESTEREÓTIPO, essa coisa que faz a gente ter uma visão pré-concebida e que a industria do consumo soube e sabe tão bem explorar e inculcar em nosssas cabeças.É quando a idéia já foi tão absdorvida que virou imaginário.E qual a relevância disso meu querido projeto de crítico?por acaso vc vai negar que esses simbolos não pertencem ao imaginário dos estilos e classes(!!)em questão?agora não se pode mais ter referências?Não é nada disso. É óbvio e natural que se se associe alguma imagem à alguma idéia, que elementos de uma cultura passem a ser reconhecidos pela força de sua imagem, às vezes pelo choque,pela originalidade e outros zilhões de razões.Quero falar aqui de um comportamento muito comum em nossas vida social quando acabamos deparando ou vivendo uma situação(às vezes até hilária) quando constatamos que forma e conteúdo andam em conflito. Vou citar um exemplo e você me diz se não conhece algo parecido:

Estou em São Luís do Maranhão e toco em uma banda que começou como um tributo a um artista que todos da banda adoram: Bob Marley. Seja pela suas belísssimas melodias,sua postura dentro e fora do palco, sua fé,convicção e seriedade ou por sua prodigiosa banda com uma das melhores cozinhas(baixo-bateria) que a música já deu ao mundo,escolha uma razão.Fomos tocar em um evento dedicado a Marley e antes de subirmos ao palco, foi abordado por uma figura que me perguntou: VOCÊS que são a banda que vão tocar?não parecem uma banda de reggae. Perguntei : Por que? resposta: ninguém tem uma dread. uma trança,tão vestidos todos de jeans e camiseta? que p* de visual é esse pra uma banda de reggae?sinceramente não sabia se eu ria ou chorava da declaração do meu amigo...Quer dizer que se marley não tivesse aquelas dreads perfeitas e não seguisse o "estilo regueiro" ele teria dificuldades de ser aceito ou não tocaria e cantaria o que cantava, e seria menos "regueiro". É nesse ponto que passamos a ter um problema, é quando a forma se torna mais importante que o conteúdo. Reparei também que meu amigo dizia Jah Rastafari! a cada música tocada pela radiola e perguntei a ele o que era o tal do Jah. Ele me disse:
- Tu toca reggae e não sabe quem é Jah?
Eu falei:
-Não, me ensina.
O meu amigo se enrolou, se enrolou, se enrolou e limitou-se a dizer que Jah era... e continuou enrolando.Por fim, já com raiva de mim, safou-se com uma resposta bem reducionista que resolveu um certo constrangimento em que se encontrava:
- Jah é tudo!
Então tá...Não posso culpar o meu amigo. Informação ainda é moeda de alto valor, e, nas maioria das vezes, ainda é propriedade de uma minoria privilegiada, que na maioria das vezes não a usa pra esclarecer. Ao contrário, até a usa para manipular.

Eu, pobre devoto de Marley desde a mais tenra adolescência e consumidor voraz de biografias do deus negro, me perguntei: O que ele faria se soubesse que o próprio Marley, antes de sua morte, encontrava-se abalado pelas estripulias de Haile Selassie (o Rei da Étiópia,o Jah- Rastafari,tido como representante de Deus na terra pelos Rastafaris) que, enquanto a população da Etiópia passava fome, alimentava seus leõezinhos de estimação com carne de primeira? sem contar outras...Não quero aqui, desabonar a fé de ninguém, mas pontuar algo que considero que mereça reflexão, sobretudo considerando que a imagem vendida lá fora é que somos "a Jamaica brasileira".

Em outra situação, fui a um festival de bandas de rock onde um certo vocalista subiu ao palco todo de branco(!!). Abominação! recebeu uma sonora vaia de um punhado de batmen que gritavam: sai daí pai de santo! (rsrsrsr)vaza daí! Sem noção!que p* de rockeiro é esse?e eu que tinha adorado o que considerei uma atitude transgressora do vocalista, não entendi a reação de metade de Gotham City! aliás, SEM NOÇÃO? qual é a noção que há em pleno nordeste, São Luís, quase 40 graus e ver, em pleno meio dia, um menino debaixo de um sol escaldante, todo de preto dos pés à cabeça,suando em bicas em nome do rockn'roll?

Só um reminder: O rock nasceu como uma atitude transgressora tanto no sentido musical como estético,chocando-se com os modelos de canções norte americanas das décadas anteriores à de 50,como as de Gershwin e Cole Porter(conservadoras, porém belíssimas). Eram a grande referência no mainstream na época e quem inspiravam as regras de comportamento. O R&B e o soul , ao se unirem, já haviam preparado o caminho para o rock, mas, a grande mistura que o pariu foi o blues, o country e o jazz. A idéia era ser diferente. Hoje, quando vou num evento desses e vejo todo mundo IGUAL,(parece reunião de motoristas de funerária), fico incomodado. Criou-se a farda rockn’roll(FARDA??!!). Será que eu tô ficando um tiozinho gágá e conservador?Eu deixo a reflexão de que, será que já não tá na hora (ou passou dela!)de rever alguns conceitos? Aliás , você acha que o massacration tá fazendo o que? elogiando?A coisa é tão engraçada que até os ícones do pop descartável se utilizam dos clichês da estética(ou estática!)rockn'roll ad infinitum, quando querem passar uma imagem rebelde e fortel, sem esquecer, inclusive da infaltável distorção(porque roqueiro que é roqueiro tem que usá-la!).Duvida? Então veja essa pérola que separei pra você :
Notou quase todos os clichês do rockn'roll diluídos e formatados lá? roupinha de couro preta, tachinhas, agressividade, sensualidade, cabelos em desalinho,guitarrinhas distorcidas, moto,carinha de mal...Ah, você notou que era... a Britney Priest, oops, digo Spears(!!!) né?reparou o título da música? é isso aí: I LOVE ROCKN'ROLL !E se depois dessa, você ainda acredita que, só usar o "visual rockn'roll" garante algum caráter de rebeldia, você é um sujeito de muita fé!Aliás, alguém aí ainda sabe me dizer o que é esse tal de rockn'roll depois de tantas blasfêmias feitas ao seu santo nome?

E só pra bagunçar os clichês:

- Bob Marley tocando "redemption song" com sua pegada tosca é muito mais, cru e verdadeiro, portanto , mais "rock" do que ALGUMAS 100 bandas de garotos de cabelos liiiiiiindos, imitando Malmsteen, Steve Vai ou John Petrucci. Hair show!

- Talvez a melhor banda de rock "pesado",contemporâneo,(naturalmente, em MINHA Modesta opinião) o Queens Of The Stone Age, cuja liderança está em controle de Josh Homme (foto acima), é uma das maiores usinas de riffs pesados e criativo do mundo, é loiro, olhos azuis, com pinta de galã, é tem cabelo curto!

- Um Dylan da década de 60,com seu violãozinho e seu verbo cortante, pode até produzir um efeito mais devastador do que ALGUMAS 10 bandas com guitarras no talo, arrebentando a caixa de som.

- Um Tim Maia à capela, cantando com aquele vozeirão, pode te acertar um dia com a potência daquele Marshal, daquela grande banda que você gosta.

- Elis Regina cantando "Como nossos pais" ou até mesmo um bolero (sugiro: " me deixas louca") ou "atrás da porta", com a alma na ponta da garganta, ainda pode até ser mais visceral do que Aquele vocalista gritando a 10 cds que o sistema não presta.

- deuses e semi-deuses do olimpo rockn'roll, da mais alta confiabilidade e com grande contribuição para a originalidade e dinâmica do edifício rockn'roll, como David Bowie ou Brian Ferry sempre se vestiram como quizeram, desprezando o que o rock fashion da época ditava ou dita, não importando se era a ditadura da boca-de-sino do flower-power, ou do xadrez e da flanela do grunge.Ou você tem coragem de dizer que esse elegantíssimo senhor de colete na foto não é relevante pro rock?

- Você diria que esse lorde aí na foto não é um filófofo porque não parece com o prótótipo pré-estabelecido pelo imaginário coletivo? Pois é, ele é Jean Paul Sartre que deixou para o mundo, obras do porte de "o ser e o nada" e "critica da razão dialética" e é um dos maiores filósofos de nossa sociedade contemporânea.

E antes que me interpretem erradamente:Não. EU NÃO ESTOU FALANDO de você que adora a sua banda e quer estampá-la no seu peito. EU NÃO ESTOU FALANDO de você que gosta de se vestir de preto por se identificar com a cor, ou por simplesmente gostar . EU NÃO ESTOU FALANDO de você que gosta de ter seu cabelo grande porque gosta e pronto! Aliás , esse junkie careta que vos fala, usou cabelo grande por 10 anos(!!!) até o dia que se olhou no espelho e disse: esse seu visual está cansado,não te traduz mais. Enjoei daquela aparência,cortei.

TÔ FALANDO DO LADO RUIM DA LARANJA.Eu estou falando da distorção(DISTORTION!), da incapacidade de diferenciar, de ser engolido pela forma em detrimento do conteúdo,de virar uma caricatura anti-social porque alguma publicação, ídolo, estação de TV, te plantou essa ideologia e essa estética e você não percebeu que está sendo manipulado. Tenha o visual que você queira, ouça a música que você queira, pense o que você queira, mas, saiba PORQUÊ, pra não ser vítima da indústria midiática, pra não ser fantoche na mão dos comandantes do mainstream . Não se iluda, that's ALSO business man!. TAMBÉM é negócio cara!ou você acha que os Beatles teriam sido os Beatles sem a ajuda de Brian Epstein?(seu produtor)ou Marley teria o impacto que teve no cenario musical não fosse o brilhante trabalho de marketing de Chris Blackwell, apresentando os Wailers com uma áurea "rock"(tô cansado de dizer isso...)com aquela capa de "Catch a fire", e principalmente, na maravilha que era a capa de " Burnin' " na Inglaterrra,com as letras no encarte pra que se pudesse ver a sua consistência política e poética? Não fosse por isso,eles seriam reduzidos a mais um produto exótico terceiro-mundista, diluído no rótulo burro chamado world-music, que é quando por preguiça de pensar, os gringos colocam tudo na mesma sacola.

Pra terminar,m eu amigo Eduardo Patrício, ex-baterista da melhor banda que já apareceu por aqui(mais uma vez em MINHA opinião) a super anti-clichê CATARINA MINA , me lembrou na postagem anterior a essa em seu comentário, de uma construção de Zeca Baleiro(inteligentíssimo, sempre), em que numa determinada canção cita: /Mais bobo que banda de rock/. Lembro que quando ouvi pela primeira vez esse verso cantado por Zeca, meu coraçãozinho rockn'roll tremeu... Mas quer saber, ele tá certo. Se for olhar direito pro universo Pop/Rock, Ele tá falando daquela banda que por distorcer o som e falar palavrão, acha que é o inimigo numero 1 do sistema, ou daquela outra que por causa da franjinha e da maquigem, se acham a última jujuba do saco com aquele ar de tédio eterno, ou aquela cara de "foda-se o sistema!" e não diz nada em suas letras, não toca nada, ou NÃO FAZ NADA para mudá-lo. O Baleiro tá certo. Ele não deve ter ouvido o Ok Computer do Radiohead ainda, ou o primeiro dos Mutantes, ou não gosta.E daí se não gostar?quem foi que disse que todos tem que gostar da mesma coisa?

Em suma:

Não deixe de ir pro seu show porque a sua camisa preta tá suja,vá com a ROSA se quizer(vai perder uma noite divertida por causa da p* de uma camisa?).

Não deixe de ir curtir a sua radiola naquele bar, porque sua camisa de cores jamaicanas ainda tá molhada, ou a sua saia rodada ainda não enxugou, ou a sua sandália baixa partiu a tira. Vá como queira, como possa.

Só tem o seu Versace no guarda-roupa agora e você quer ir pro congresso de filosofia? Vá. Lembre de Sartre que estava sempre impecável, clássico e deixou a sua marca na humanidade.

Ah, só restou aquela camisa do atacadão Itarec que você comprou? No problem. Vá. Se não, fique em casa, lendo aquele livro incrível, ouvindo aquele som que te transporta.Tá chovendo mesmo.

Pensar, tocar, criar, não precisa de amarras. Gente não é remédio pra ter rótulo. Estilo musical não é empresa pra ter farda. Coloque a cama na varanda quando todos praguejarem contra o frio(Raul!), só pra variar. Aliás, siga o conselho do mestre Raul, dê uma variada. Destribalize. Vá na rave daquele seu amigo, não vire um fundamentalista, um xiita. Vai lhe fazer muito bem. Vá de terno pra praia se quizer(não recomendaria,tá um calor infernal esses dias, mas, se você tá afim...)Quer ouvir ABBA depois do Pantera?(rsrsrs), no problem. Depois do Dream Theater , você quer ouvir aquela banda que toca mal pra caramba, mas que te capturou? vai fundo. Recomendo o Arctic Monkeys, ou o White Stripes. Gosta de disco music mais tá com medo do que o pessoal vai pensar?relaxa cara, você tá muito tenso...Fred mercury era gay, Bowie e Molko são Bi, o Flamengo é penta e Serguey é Pan!(rsrsrsr) tu não te garante não rapá?(rsrsrsrsr). Deixa de ser preconceituoso. Forget your troubles and dance! já dizia Marley. Relaxa... você tá levando esse negócio muito a sério.
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